"A vida é de quem se atreve a viver".


Diogo Cerrado, músico e ator, protesta contra o descaso do secretário Adão e do governador Ibaneis com a cultura do DF.
“Cadê o Adão?”

Alexandre Ribondi

Brasília - A audiência pública convocada pela secretaria de Cultura do Distrito Federal com os fazedores de cultura, a propósito do desvio de R$ 25 milhões do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), não aconteceu. Marcada inicialmente para as 14 horas dessa segunda-feira, 20/5, no Museu da República, a audiência foi adiada para quarta-feira (22/5), no mesmo horário e no mesmo local. No entanto, os artistas presentes tiveram que desabafar e a palavra de ordem repetida aos gritos foi mesmo “Cadê o Adão?” - em referência ao secretário de Cultura Adão Cândido, que tem o irresponsável ato de não comparecer a nenhum evento onde possa correr o risco de se ver cara a cara com a classe artística da cidade.

O que está em jogo são os R$ 25 milhões do FAC que foram surrupiados dos artistas para, alegadamente, custear as reformas da Sala Martins Pena do Teatro Nacional Cláudio Santoro, que está fechado e entregue às moscas há cinco anos.

Como muito bem explicou o curador Alaôr Rosa, “não se pode fazer reforma e reparo às custas da morte da cultura”. Falar de morte da cultura não é nenhum exagero. O desvio da verba, originalmente destinada a custear a produção de artes cênicas, põe na inatividade 12 mil artistas e técnicos e 30 mil outros trabalhadores, de maneira indireta.

Também se falou de crime na porta do Museu da República. Faixas com dizeres como “Cultura Sem FAC é Cidade Sem Voz” e “Cadê a Audiência?” foram erguidas debaixo do sol forte. Segundo Alaôr Rosa, “estamos aqui para chamar o governador Ibaneis Rocha e o secretário Adão Cândido ao juízo, porque estão cometendo um crime. Querem criar a economia criativa e tiram dinheiro das mãos dos artistas”.

Deputados brasilienses, distritais e federais, apoiam o movimento dos artistas. Até o momento, são computados cerca de oito parlamentares, mas serão necessário 13 para que a verba volte ao FAC e para os artistas que poderão, aí sim, criar espetáculos a preços populares, que beneficiam a cidade. Por isso é que o musico Caio Chaim declarou ao brasiliários.com que “esse decreto do governo é uma declaração de guerra explícita à cultura e que, apesar de explícita, se faz de maneira silenciosa, afeita à política fascista semelhante à do governo federal contra a educação, o conhecimento e a formação de senso crítico”.

Os parlamentares envolvidos também já sabem que a luta será dura. Mesmo diante da proposta, feita pelos deputados, de entregar, em 2020, o total de R$ 40 milhões, conseguidos por emendas parlamentares, para a reforma da Sala Martins Penna, o governador e seu secretário de Cultura mantêm-se irredutíveis.

Não se trata, portanto, de uma alegada “política de interesse público”. Trata-se, na verdade, de uma vingança pessoal de Ibaneis Rocha por ter sido preterido pela classe artística nas eleições do ano passado. E também de um prazer de Adão Cândido que vê com desprezo a classe artística brasiliense, cuja produção ele considera insignificante.

Você não tem direito de postar comentários

Destaques

Mais Artigos