Antônio Carlos Queiros (ACQ) - Para celebrar o Dia Mundial do Livro, resolvi passear com os netos no Zoológico, lembrando a eles que os primeiros livros foram escritos sobre peles de cabra, carneiro, cordeiro ou ovelha preparadas para o nobre propósito com o nome de “pergaminhos”, porque, ao que parece, tiveram origem na cidade grega de Pérgamo.
Quando esses suportes literários eram muito delicados, feitos de peles de bezerros ou cordeiros abortados, recebiam o nome de velinos, do francês antigo vélin, “couro de vitelo”.
Precavido, levei o meu caderno moluskine para fazer anotações. Foi um programa realmente deleiturável (essa foi fraca, né?).
Deslumbrantes as cores dos lepidópteros, as borboletras e mariprosas de todos os continentes. Ainda na sessão dos insetos, chamaram nossa atenção os vogalumes, as libérlulas e os pernipílogos. Por óbvio, também, as ávidas traças, severas críticas literárias desde que inventaram os livros. Tentando se esconder debaixo de uma pedra, não sei por que pretexto, vimos uma lecraia, obviamente infiltrada naquele campo.
No poço dos répteis, assuntamos crocolidos quentando sol. Separadas, diversas espécies de legartos e legartixas. Ao lado, texterugas de água doce e de água marinha e, obviamente, o premiadíssimo jabuti. Um pouco além, as consoantas. Depois, as anacodas. Em seguida, os tanques de bichos aquáticos, en-guias, legostas, legostins, lebaris, robálogos e sobrecarpas. Me lembrei de uma ba-leia que uma vez vi na biblioteca da Disney.
Dos bichos grandes, os mais divertidos são os vursos, os dramadários, os elestantes, os romalces, as romonças, as raprosas, as novelhas, os hienários, os ocapítulos e um javali que está com uma das presas quebrada. Em nossa unânime opinião, o animal mais garboso ali é o ler-o-pardo. Estranhamos a ausência das zebras, que se deixam decifrar nas entrelinhas.
Entre os bichos pequenos, apreciamos em especial os literratos (críticos ferozes), as erratazanas e os ésquilos, inimigos dos vizinhos separados pergarminhos, vorazes animais da família dos must-a-ler.
Com um dos livros do Guimarães Rosa na cabeça, no qual ele relata visitas a jardins zoológicos, fomos ver as aves-palavras. Que luxo o faicção! Que belo gorjeio o do bem-te-li! O que dizer da barulheira das maritecas e das gralhas? O zabelê, quando emite o piado de quatro notas, parece estar soletrando…
Para finalizar o programa, compramos sorvetes e fomos ver a sessão de leitura, quer dizer, a ordenha de vacas holandesas que os meninos das cidades já não conhecem. Só sabem da leitura de caixinha.
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Ilustração: @ Happy Home Decor
Errata
Que vergonha que eu passei: a primeira sessão, a dos insetos, saiu com dois esses como a sigla da Schutzstaffel. A segunda, a da leitura, está certa. Se bem que os insetos estavam se apresentando, né? Enfim, não vamos abrir o flanco pros grasmáticos!