Romário Schettino -
O julgamento do habeas corpus de Lula escancarou não só a divisão no Supremo Tribunal Federal (STF), como deixou claro que o tribunal está, mais uma vez, sujeito a pressões da mídia (TV Globo, especialmente), do poder econômico paulista e dos políticos golpistas que se apoderaram do poder.
O voto da ministra Rosa Weber impressiona pela incoerência intrínseca: “Vou deixar de seguir o meu entendimento (contra a prisão após condenação em segundo grau) para seguir o entendimento da maioria (atual a favor da prisão), que só será maioria porque eu vou deixar de seguir o meu entendimento”. Ela disse que vota pelo respeito à "colegialidade", seja lá o que isso for.
Confuso? Não, claríssimo. Rosa, que não é de Luxemburgo, longe disso, coitada, ficará no canto obscuro da história com esse voto Frankenstein. De nada valerão os elogios dos comentaristas da TV Globo, que na madrugada de hoje mostravam satisfação com o resultado de suas manobras “jornalísticas”.
O ministro Marco Aurélio acusou o golpe das duas ministras, Rosa e Carmém Lúcia, e questionou o andamento do julgamento. Lógico, se há dúvidas constitucionais quanto à regra da prisão em segundo grau, questão preliminar, por que não votar antes essa tese, com a qual está de acordo Rosa Weber? A toda poderosa presidente deu um jeitinho de “apequenar o STF”.
Carmém Lúcia preferiu ceder às pressões e manobrou para votar o habeas corpus sabendo que poderia entregar a cabeça de Lula aos golpistas do Judiciário, do Ministério Público, da grande imprensa, dos corruptos do governo Temer e dos empresários idem.
Pergunta-se quanto custará essa decisão à democracia, ao processo eleitoral e ao povo brasileiro? A continuidade do golpe com Supremo e com tudo avança a passos largos. Tudo isso para tirar Lula do páreo eleitoral. Até ameaça de golpe militar foi usada contra a possibilidade de conceder o habeas corpus. Rosa Weber votou com uma baioneta em seu pescoço.
Mas o PT não está disposto a abrir mão do direito de ter Lula candidato. Mesmo preso, o que poderá acontecer nos próximos dias, Lula continuará candidato porque quem decide isso é o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para onde irá o seu pedido de inscrição. Os advogados de Lula vão esgotar todos os recursos possíveis: embargos, dos embargos, dos embargos. É um direito constitucional.
Quanto menor for o tempo entre a decisão pelo impedimento de Lula e o dia da eleição em primeiro turno, melhor será para o candidato ungido por ele. E assim, Lula poderá escolher entre Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT), Manuela D´Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSol). Ou uma composição envolvendo todos eles.
A outra hipótese é Lula conseguir que o STF vote a tese da prisão em segundo grau, saia da cadeia e entre em campanha abertamente. Mas é preciso esperar mais um pouco. Ainda é cedo, amor.