Romário Schettino –
Ato histórico no Circo Voador, Arcos da Lapa, Rio de Janeiro, reuniu nesta segunda-feira, 2/4, partidos de esquerda para lançar frente ampla em defesa da democracia, do presidente Lula e de Justiça na apuração do assassinato da vereadora do PSol-RJ, Marielle Franco.
Nos discursos deste dia, Lula recebeu apoio ao seu legítimo direito de estar livre para concorrer às eleições de outubro. Lula reafirmou apoio a Manuela D´Ávila, pré-candidata do PCdoB, e a Guilherme Boulos, do PSol. O cantor e compositor Chico Buarque estava presente, não discursou, mas foi bastante aplaudido ao ser anunciado. A presença de Chico é tão significativa que já nem precisa se pronunciar.
Marcelo Freixo, pré-candidato a deputado federal pelo PSol, deu ênfase à necessidade de união das esquerdas, respeitadas as diferenças, em torno de algo muito maior do que o processo eleitoral. “O fascismo, que avança sobre o Brasil, é o nosso verdadeiro inimigo. Precisamos superar nossas diferenças e atuarmos em bloco para eleger o maior número de deputados e senadores possível, pra garantir a governabilidade de nosso presidente eleito, seja ele qual for entre os progressistas”.
Todos os políticos de esquerda reafirmaram compromissos com a democracia, com o Estado de Direito, com a liberdade de Lula e com a justiça na apuração da morte da vereadora do Marielle Franco e de seu motorista Anderson.
O deputado federal Jean Wyllys (PSol-RJ) (foto com Lula e Manuela) fez questão de falar na presença do ex-presidente que se considera um filho político da era Lula. Jean disse que o fato de ser o único político gay assumido naquele ato é “prova de que é preciso ter mais representatividade de mulheres, índios, negras, negros e homossexuais”. Ele disse também que “a democracia só terá sentido quando as liberdades estiverem sendo respeitadas, quando o feminicídio for banido de nossa sociedade assim como a homofobia”.
Auditório cheio e praça cheia (foto) ouviram o senador Lindbergh Farias, do PT, e Gleisi Hoffman, presidente do PT nacional, um representante do PCO e o vereador paulista Eduardo Suplicy, que só não cantou porque o tempo era curto para tantas falas.
Celso Amorim, pré-candidato a governador do Rio pelo PT, um dos articuladores do ato suprapartidário, destacou a importância da união neste momento em que “o Brasil sofre um dos piores ataques do autoritarismo de direita, insuflado por setores conservadores que não possuem candidatos capazes de vencer Lula nas eleições”.
Ao mencionar o estudante Edson Luís, secundarista assassinado por policiais militares, durante confronto no restaurante Calabouço, centro do Rio de Janeiro, no dia 28 de março de 1968, Amorim disse que à época a palavra de ordem era: “O povo unido jamais será vencido”. “E é isso que deve nos mover neste instante”.
A filósofa Márcia Tiburi chamou atenção ao dizer que o que envolve toda essa onda fascista, violenta, intolerante, que estamos vivendo no Brasil é a ideologia do neoliberalismo. "É contra essa visão individualista do mundo que precisamos nos dedicar, pois ela não é óbvia para a maioria da população. Nós temos que fazer o debate para orientar nossa luta diária".
A viúva de Marielle, a arquiteta Mônica Benício foi chamada ao palco e disse que não gostaria de estar ali por causa do assassinato covarde de sua mulher, mas que tinha certeza de que ela “está viva em todos nós, no Brasil e no mundo”. Freixo completou dizendo que “o mundo chora não apenas a morte de Marielle, mas a vontade de tê-la conhecido viva”.
Lula, que fez sua última aparição pública antes do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o seu pedido de habeas corpus, desafiou o juiz Sérgio Moro, os desembargadores do TRF4 e os membros do Ministério Público para um debate sobre o processo em que é acusado de crimes que, segundo ele, “não cometeu”.
Lula disse ainda que não está nessa briga apenas porque quer ser candidato, mas porque quer que “parem de mentir” a seu respeito. “Quero minha inocência, porque quero ser candidato”.
Lula atacou a Rede Globo e a considerou responsável pelo crescimento do ódio e da violência política no país. Segundo Lula, se a Globo “tivesse dado um quinto da atenção ao mandato de Marielle antes do seu assassinato, talvez ela estivesse viva”. Lula acha que a democracia brasileira só terá sentido se “fizermos uma regulação da mídia neste país. Não é possível a comunicação social no Brasil continuar sendo comandada por apenas cinco famílias”.
O ato público, que deveria ser apenas o lançamento das pré-candidaturas de Celso Amorim para governador, Lindbergh Farias para o Senado e Lula presidente, transformou-se numa demonstração de unidade em torno da defesa da democracia e críticas ao avanço da direta fascista no Brasil.