Angélica Torres -
Márcia Tiburi deu um show de "conversa de botequim", como ela própria intitulou, para a plateia que lotou o museu da República, ontem (13/3) de noite, na abertura da série Diálogos contemporâneos.
Dona de uma oratória fluente, rica em vocabulário e em ironia fina, divertida, de fazer inveja a quaisquer famosos comunicadores, Tiburi só não captura fascistas para o seu enorme fã clube espalhado pelo país. Aliás, o tema da conversa derivou de seu penúltimo livro, Como conversar com um fascista (Record, 2015). A plateia delirou e a aplaudiu recorrentes vezes, ao longo de toda a palestra.
Filósofa, professora e feminista gaúcha, nascida em1970, Márcia Tiburi desfiou vários assuntos a partir dessa temática – nela embutida a verdadeira tragédia que tem assaltado e abatido o Brasil, política e culturalmente, nos últimos anos. Traçou o perfil psicológico do autoritário impotente e odioso, do invejoso infeliz, da elite acumuladora e ostentadora, da burguesia cafona, do racista, do homofóbico, do machista, do preconceituoso enfim, e dos dráculas da vez, todos praticamente refletidos numa só face da mesma moeda.
Criticou a dificuldade que pessoas com esse perfil psicológico têm de fazer sinapses, de “ligar lé com cré”, por falta de abertura interior (definição clássica e etimológica de idiotia) e de esforço, leitura e informação; por repetição papagaia do que entendem, “assimilam” e se identificam de cara, mas também por paranoia do sujeito psicopolítico bastante comum.
A característica dessa gente, segundo ela, é sobretudo ser politicamente pobre pela perda da dimensão do diálogo. O diálogo se torna impossível quando se perde a dimensão do outro.
O fascista, segundo a jovem filósofa, não consegue se relacionar com outras dimensões que ultrapassem as verdades absolutas nas quais ele firmou seu modo de ser. Sua falta de abertura se fixa contra pessoas que não correspondem à sua visão de mundo pré-estabelecida.
A crítica expandiu-se para os jornalistas da mídia capitalista, mas também para cidadãos do fenômeno propiciado pela internet. Todos se acham no direito de expressar opiniões – burras, deixou bem claro, embora tudo dito de forma suavemente mordaz, quanto mais à vontade ela se sentia perante a plateia acolhedora e entusiasmada.
Contou ainda episódios familiares de conservadorismo explícito e de perseguições que tem sofrido por boatarias e provocações de contradição de discurso e intolerância às avessas, sobretudo após a entrevista que interrompeu à Rádio Guaíba, quando Kim Kataguiri, assecla do MBL, entrou em cena para participar como convidado do programa.
“Não me obrigo a falar com quem e aonde não quero; me retiro e me retirarei de onde achar que devo”, afirmou. Já no debate com o público, Márcia Tiburi (foto) dedicou-se a convocar toda a população brasileira a resistir ao desmonte promovido no país pela direita tirana.
Criadora do movimento Partida Feminista, sem restrições a quem queira participar, e originalmente filiada ao PSol, contou que quando conheceu Lula de perto reconheceu nele um sertanejo, um homem forte, e decidiu se filiar ao PT.
“Estão nos quebrando ao meio e não estamos reagindo para tentar quebrá-los”, e sugeriu que as pessoas se unam em comitês, sindicatos, movimentos, assembleias, grupos de estudo etc., mas que não se permitam petrificar pelo comodismo burguês. “Hoje vemos muitos morando nas ruas, amanhã podemos ser nós, se não reagirmos”.
No próximo dia 20 será a vez do ex-ministro da educação Renato Janine falar, no contexto do ciclo Diálogos contemporâneos, sobre os desafios da educação no Brasil de 2018. A palestra, intitulada “A educação no Brasil, a realidade contemporânea e os novos instrumentos para a formação de crianças e jovens”, terá lugar na UnB, às 13h, e no Museu da República, às 19h, com entrada franca.