O filho do ex-presidente João Goulart (Jango) João Vicente Goulart pediu desfiliação hoje, quinta-feira (4/5) do PDT-DF, e abriu dissidência em nome dos trabalhistas janguistas, brizolistas e legalistas rumo a uma opção mais à esquerda.
João Vicente ainda não decidiu em qual partido vai se filiar, mas demonstrou, em carta enviada aos seus companheiros, os motivos de sua discordância sobre os rumos do PDT em Brasília.
O principal motivo do desconforte de João Vicente é a negativa do governo Rodrigo Rollemberg (PSB) de permitir a instalação em Brasília do Memorial João Goulart, com projeto de Oscar Niemeyer e comandado pela Fundação Presidente João Goulart.
A seguir, a íntegra da carta de João Vicente ao PDT:
"Aos companheiros trabalhistas do PDT:
É com tristeza que escrevo esta, para comunicar a vocês, meus companheiros de partido, minha desfiliação dessa nossa querida agremiação, que com tanta luta, ajudei a construir nos momentos mais difíceis, e onde sempre estive presente; na expulsão de nosso fundador Leonel Brizola do Uruguai em 1977, em Portugal onde fui signatário da “Carta de Lisboa”, no retorno do exílio via Assunção do Paraguai, onde negociei com as autoridades daquele país o retorno de nosso líder para que pudesse entrar no Brasil por São Borja, na luta por construir o PTB o qual tivemos que refunda-lo no PDT, quando perdemos a sigla, enfim, nesta luta do trabalhismo por 40 anos em que estivemos juntos por um país melhor e mais justo.
Luta esta que é sem dúvidas árdua e constante, digna e coerente.
Ela continua no destino de todos nós que pregamos a doutrina trabalhista, mas não posso mais compactuar com a aliança espúria que continuamos a manter no Distrito Federal, com o covarde governador Rollemberg, que cassou Jango, meu pai, pela segunda vez, ao cassar o “Memorial da Liberdade e Democracia Presidente João Goulart”.
Isto me impede, em nome de sua memória, concordar com esta injustiça que nosso partido vem praticando, ao manter esta união, em nome do pragmatismo fisiológico, eleitoreiro e das piores práticas políticas que esta figura, disfarçada de “socialista”, pratica também contra o povo do Distrito Federal, seja na saúde, na educação, na derrubada de moradias humildes e na caça aos direitos de várias categorias funcionais de trabalhadores.
Enquanto a Nação devolve a Jango seu diploma de Presidente da República cassado pelo arbítrio do golpe; enquanto a Nação lhe presta as honras de Chefe de Estado que não teve em sua morte no exílio; enquanto o Congresso nacional anula a fatídica e vergonhosa sessão da madrugada do dia 2 de abril de 1964 que declarava vaga a presidência da República com o presidente dentro do território Nacional; enquanto Jango é agraciado por unanimidade pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, com o título de “Cidadão Honorário”, nós do PDT, continuamos a manter uma aliança com este governo do DF, traidor de nossas causas e doutrinas.
A grave situação da política nacional que vivemos, não indica tampouco ser de bom arbítrio estar ao lado de golpistas.
Não posso compactuar com isto, meus companheiros, e este, o motivo de
minha saída do PDT e minha despedida aos companheiros que ficam.
Esta bandeira, que ajudei a construir e que por tanto tempo abrigou minhas mais puras inspirações que trouxe do exílio, da fé e da luta que não abandonamos, da resistência feroz de meu pai à tirania da ditadura de 1964 e que a morte o separou do Brasil que tanto amou e ao qual queria retornar, quando fosse livre e democrático, fica no coração.
Nada temo, nada receio; apenas as saudades de todos vocês, companheiros que deixo no PDT, e a tristeza de ver que o nosso partido continua ao lado do verdugo de Jango, representante das piores elites de Brasília que continuam sugando o suor dos trabalhadores desta terra.
Às vezes é melhor andar só, prosseguindo a luta, prosseguindo o caminho.
Me despeço, com a certeza da compreensão de minha atitude. Me despeço da trincheira, não da frente de lutas e da guerra.
Transmiti ao presidente Lupi, através deste texto esta minha atitude que devo a todos os fiéis companheiros, mas tenham certeza de que sempre estaremos juntos no sonho de um Brasil mais justo, que Getúlio, Jango e Brizola sonharam um dia.
Um forte abraço,
João Vicente Goulart".