Mário Augusto Jakobskind -
De repente, não mais do que de repente, a mídia comercial conservadora mudou da água para o vinho em relação ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Motivo foi o bombardeio dos 59 mísseis Tomahawk, disparados do mar Mediterrâneo contra uma base militar síria.
E tudo teve por base uma suposta utilização de armas químicas pelos militares sírios, tornando-se o fato uma verdade inquestionável, ou seja, de que o governo sírio utilizou armas químicas – gás sarin – provocando dezenas de mortes, entre elas crianças.
O episódio de alguma forma lembra a primeira invasão norte-americana no Iraque quando o então Secretário de Defesa, Collin Powell, foi ao Congresso revelar uma mentira, comprovada posteriormente, de que o Iraque de Saddam Hussein tinha as tais armas de destruição em massa.
A diferença é que hoje o mundo pôde assistir, com justa indignação, as imagens das vítimas. O Congresso estadunidense na época foi consultado para promover a invasão, o que não aconteceu agora.
De antemão, sem nenhum tipo de questionamento por parte dos Estados Unidos e de outros governos, Bashar Al Assad foi considerado o único culpado pela tragédia.
A negativa da responsabilidade por parte do governo sírio não foi praticamente considerada, prevalecendo a acusação, que se tornou a única verdade. Nem foi cobrada uma investigação sobre quem está correto.
Trump deixou de lado o seu slogan “América primeiro”, para ordenar o bombardeio, cujo custo não foi revelado pela mídia comercial conservadora, que visivelmente aproveitou o embalo para dar a guinada em apoio ao presidente.
Há quem garanta que ele apenas cedeu aos interesses do complexo industrial militar, que exigiu a ação contra o governo sírio.
Obrigado ou não, o bombardeio foi realizado com poucos questionamentos, um deles por parte da Rússia, que já se prontificou a oferecer mais garantias militares aos sírios.
A ação norte-americana, segundo opinam observadores independentes foi inócua em termos de resolução do conflito iniciado em 2011, não passando de mais uma jogada de puro marketing, que governos impopulares realizam para tentar reverter desgastes.
Foi o que fez Trump, obrigado ou não a dar a guinada de 180 graus.
Quem pode afirmar com absoluta razão que os sírios utilizaram as armas químicas, se as mesmas já tinham sido banidas há algum tempo, inclusive com supervisão internacional?
A primeira pergunta que deve ser feita: a quem interessava o uso das armas químicas e a efetivação da tragédia? O menos interessado no caso é o próprio governo de Bashar Al Assad que com a ajuda da Rússia tinha o controle da maior parte do território com o enfraquecimento dos terroristas, que, por sinal, a mídia comercial conservadora nos últimos dias não mais o designavam como terroristas, mas como rebeles.
Ou seja, a al Qaeda, Estado Islâmico e outras organizações do gênero passaram a ser consideradas “rebeldes”.
E assim caminha o noticiário internacional, cuja repercussão na carta dos leitores dos jornalões só acusa o governo sírio pela barbaridade acontecida.
Inventadas ou não, as cartas são um dos sintomas do bombardeio midiático no sentido de queimar de vez o “ditador” Bashar Al Assad, mas colocando agora Donald Trump nas alturas.
É explicável, na medida em que ele se enquadrou ou foi enquadrado para seguir o que interessa a um segmento da indústria estadunidense, o complexo industrial militar, a imagem midiática de Trump passa a entrar em novo patamar de aprovação.
No plano internacional, países europeus, entre os quais a Inglaterra, Alemanha e França já o aplaudiram tendo por base a única versão aceita, qual seja a de que a Síria usou armas químicas contra a população civil.
Como comprovação de que a hipocrisia é um dos componentes da atualidade em termos de pronunciamento, vale assinalar o apoio efusivo do primeiro ministro de Israel, o belicista Benjamin Netanyahu, que provavelmente vai aproveitar o embalo e esperar apoio de Trump para uma eventual aventura bélica contra o Irã, algo que o governante extremista israelense nunca deixou de lado.
Por estas e outras, depois do bombardeio com os mísseis lançados do mar Mediterrâneo, a situação na região tornou-se ainda mais grave, com possibilidade até mesmo de aumento da tensão nos mais diversos quadrantes do planeta.
Uma pergunta que não quer calar: quem lucra com isso? A resposta é óbvia: o complexo industrial militar, que se sente contemplado com a guinada de Trump.