"A vida é de quem se atreve a viver".


Muda PT propõe uma rede de comunicação articulada por meio de mídias digitais
Na Carta de Brasília, Muda PT diz como enfrentar a crise

O Movimento Muda PT, articulado nacionalmente por diversas tendências e agrupamentos insatisfeitos com os rumos do partido, realizou seu 1º
Encontro Nacional neste final de semana (2 e 3/12) no Auditório Nereu Ramos, da Câmara dos Deputados, em Brasília.

Na pauta, uma defesa do PT, sem abrir mão de intensas críticas e autocríticas em relação às atuais formas de organização partidária, especialmente a forma de escolha das direções do Partido dos Trabalhadores.

Do encontro surgiu o manifesto “Carta de Brasília - Mudar o PT é Urgente. Muda PT!”, documento síntese que pretende servir como base na luta por uma renovação partidária, tanto na forma de organização, como em seu conteúdo programático.

Na defesa de bandeiras históricas da esquerda brasileira, dirigentes e militantes reafirmaram a necessidade se construir uma nova dinâmica interna, capaz de absorver as modernas formas de mobilização política, incluindo as plataformas em rede, que deem voz às bases.

Olívio Dutra, ex-governador do Rio Grande do Sul, defende tratamento rigoroso das denúncias de desvios éticos cometidos por filiados. "Não se deve passar a mão na cabeça de quem agiu por interesses pessoais e não partidário, comprometendo as bandeiras de luta da miliância, que é quem constrói o partido".

Participaram do encontro, representantes de movimentos sociais como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Consulta Popular, Marcha Mundial das Mulheres, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e União Nacional dos Estudantes (UNE).

Presentes várias lideranças partidárias, como o vereador eleito em São Paulo, Eduardo Suplicy e os convidados Marco Aurélio Garcia e Olívio Dutra. Os ex-ministros Miguel Rosseto, Ricardo Berzoini e Pepe Vargas, além do ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro.

Dentre os parlamentares do PT estiveram lá os senadores Fátima Bezerra e Lindbergh Farias, e deputados federais Erica Kokay, Luizianne Lins, Margarida Salomão, Paulo Teixeira, Maria do Rosário, Moema Gramacho, Afonso Florence, Elvino Bohn Gass, Henrique Fontana, Paulo Pimenta, Marco Maia, Angelim, Arlindo Chinaglia e Waldenor Pereira. Muitos deputados estaduais, prefeitos e vereadores.

Antes do VI Congresso Nacional do PT, a ser realizado em abril de 2017, o Muda PT ainda deve realizar uma plenária dos delegados e delegadas para discutir e definir sua atuação unificada.

Homenagem à Chapecoense - Num momento emocionante, Claudio Vignati, presidente do PT de Santa Catarina, conduziu um minuto de silêncio em homenagem aos integrantes da delegação do Clube Chapecoense e jornalistas, mortos no acidente aérea que vitimou 71 pessoas.

Eis a íntegra do documento escrito em Brasília:

Carta de Brasília - Mudar o PT é Urgente. Muda PT!

“A militância reunida no Encontro Nacional do Muda PT saúda lutadores e lutadoras pela democracia, pelos direitos ameaçados pelo golpe, sindicalistas, jovens das ocupações das escolas e Universidades, mulheres e homens que não saíram das ruas e praças nestes meses de mobilização cidadã.

Com vocês estamos, e com vocês queremos Mudar o PT.

O PT é o principal instrumento político de luta da classe trabalhadora e do povo brasileiro. Mas precisa mudar!

O PT precisa mudar para se colocar à altura dos desafios postos na luta de classes para este período. A classe trabalhadora e o povo brasileiro, que lutamos para representar, sofreram a mais dura derrota de nossa história recente, com a destituição violenta da Presidenta Dilma e com os ataques promovidos pelos golpistas contra os movimentos sociais e a esquerda em nosso país, afetando também países e povos irmãos que sofrem as consequências da alteração da correlação de forças no continente e no mundo.

O PT precisa mudar urgentemente! Precisamos nos reorganizar para barrar o golpe, defender Lula e a democracia, impedir a revogação de direitos e a redução das liberdades.

O PT precisa mudar para efetivar o #ForaTemer, que movimenta a generosidade de milhares de pessoas que ocupam as ruas na resistência democrática; para devolver ao povo brasileiro o direito de escolher livremente seu governo. O povo deve decidir. Queremos Diretas Já!

O PT precisa mudar para apresentar ao povo brasileiro um novo programa de esquerda para as transformações sociais necessárias em nosso país.

Um programa democrático, popular, socialista e libertário, que integre as demandas históricas por integração regional, soberania nacional, democracia e bem-estar social, com as demandas dos segmentos historicamente oprimidos por sua condição social, origem regional, sexo, identidade de gênero, orientação sexual, etnia ou geração.

O PT precisa mudar, para oferecer esse programa a todas as forças de esquerda que lutam conosco por democracia e um novo sistema político, não mais tutelado pelo poder econômico do capital, a ser feito por um processo constituinte exclusivo e soberano a ser construído como culminância de um novo acúmulo de forças, intensa participação popular e resposta à crise da democracia representativa.

O PT precisa mudar para se diferenciar radicalmente desse sistema político corrompido e corruptor, para derrotar toda forma de corrupção institucionalizada, de privatização do Estado, de financiamento empresarial de instituições públicas, Poderes do Estado e partidos políticos.

Assim fizemos na nossa origem, nas ações de nossos governos Lula e Dilma para enfrentar a corrupção e de nossas bancadas para prevenir e punir esse mecanismo de acumulação e reprodução do capital. Essa luta é inseparável da luta democrática, da participação popular e pela ética na política.

O PT precisa mudar para enfrentar a ofensiva que se desenvolve, no Brasil e no mundo, de uma alternativa de direita à crise prolongada do capitalismo, uma ofensiva reacionária que acirra a luta de classes e tira do armário todo tipo de retrocesso civilizatório: a misoginia, o machismo, a homofobia, a lesbofobia, a transfobia, a xenofobia, a discriminação contra imigrantes e emigrantes, o ódio contra o povo, contra a esquerda, seus partidos e movimentos.

Mais que nunca, a consigna "socialismo ou barbárie" nos conclama à unidade e à luta.

O PT precisa superar o burocratismo e a adaptação à institucionalidade. O PT precisa mudar porque descuidou de ser um espaço de participação para milhões de filiados e simpatizantes, chamados no mais das vezes apenas para fazer campanhas eleitorais ou em momentos de eleição das direções partidárias, através do processo viciado em que se transformou o PED, com núcleos, diretórios e setoriais frágeis e incapazes de ser o lugar de formação política e participação cidadã do petismo na condução dos rumos do Partido.

Em que o PT precisa mudar?

O PT precisa mudar para integrar suas estruturas originais e necessárias - direções, núcleos, setoriais - numa estratégia comum. Os mandatos parlamentares e os governos devem ser colocados sob controle e direção coletiva.

O PT precisa construir direções coletivas, colegialidade e corresponsabilidade nas decisões, eliminando o presidencialismo imperial em que muitos de nossos diretórios acabam sem funcionar regularmente.

Entre as instâncias e organismos que precisam funcionar de forma permanente, estão a Comissão de Assuntos Disciplinares e o Conselho de Ética partidária em todos os níveis, para assegurar que haja resposta eficiente a quaisquer atitudes coletivas ou individuais que atinjam a ética de nosso Partido e da sua base militante.

O PT precisa mudar sua construção partidária com a juventude. Precisamos ter uma Juventude do PT inserida nas lutas sociais da juventude brasileira, que influencie o partido com uma nova energia combativa, com novas pautas e criatividade para atualizar as formas de organização.

O PT precisa retomar a capacidade de organização e mobilização para disputar uma política anti-capitalista, anti-racista e anti-patriarcal.

Assim será o partido capaz de lutar por uma sociedade com igualdade entre mulheres e homens, que retome o esforço de construção de uma política feminista unitária capaz enfrentar os bloqueios que as mulheres feministas enfrentam quando se propõem a construir, como aqui nos propomos, um partido e um projeto político de esquerda.

O PT precisa mudar construindo novas formas de participação da militância nas decisões do partido. Queremos superar o PED, não apenas pelas mazelas que o acompanharam nos últimos anos, mas principalmente porque precisamos de uma democracia interna que vá muito além do voto individual.

É preciso multiplicar núcleos, setoriais, plataformas e oportunidades de participação por meios digitais, conferências livres, atividades culturais e mecanismos de diálogo permanente com filiados e militantes.

Precisamos de uma estrutura de comunicação, construindo uma rede de meios de comunicação – jornais, revistas, rádios, TVs e redes sociais -, articulados através das mídias digitais, vitaminando nossa relação com uma sociedade que a mídia oligopolizada ao mesmo tempo controla e fragmenta.

O PT deve instituir mecanismos de controle social interno sobre as finanças do partido em todos os níveis de direção, que dê transparência e democratize decisões sobre a aplicação dos recursos arrecadados.

O partido deve reafirmar sua posição contra o financiamento empresarial aos partidos e campanhas eleitorais. Precisa construir formas militantes de auto-sustentação e ampliar as formas públicas de financiamento da democracia e dos Partidos.

O PT deve dedicar energias para construir uma frente de esquerda, com partidos e movimentos sociais alinhados com um programa anti-neoliberal em defesa da democracia e dos direitos.

Deve jogar-se de peito aberto na construção da Frente Brasil Popular, espaço de aprendizado coletivo da esquerda na construção de um novo projeto para o país, e na busca de diálogo e unidade com a Frente Povo Sem Medo e outras organizações da resistência democrática.

A política de alianças do PT deve ser orientada pela construção dessa frente de esquerda e resistência democrática. Portanto deve retirar de nosso arco os partidos golpistas.

O PT vai mudar ao criar condições para organizar o petismo disseminado na sociedade para fazer frente ao crescimento do fascismo e do obscurantismo nesta conjuntura tão aguda.

Reafirmamos que essa plataforma de esquerda deve incorporar a defesa intransigente de um feminismo socialista, da igualdade entre mulheres e homens, de combate à opressão étnico-racial, as discriminações da sexualidade e da desigualdade social.

Muda PT quando? Já!

Vem aí o VI Congresso Nacional do PT, e lá estaremos disputando nossas propostas junto ao conjunto de filiados e filiadas.
É necessário mudar, e é possível mudar!

O Muda PT é um movimento amplo, para além das correntes organizadas do PT que o integram.

Convocamos todos os filiados e todas as filiadas, simpatizantes e militantes que querem continuar construindo o nosso Partido com coerência, ética, combatividade e compromisso socialista para nos encontrarmos nas próximas semanas em todo o país.

Vamos nos encontrar nas cidades, estados, frentes de atuação. Vamos debater o presente Manifesto e continuar sobre como organizar o novo PT que queremos.

Vamos disputar as bases do partido, fiscalizar as eleições diretas de dirigentes e delegados e delegadas ao Congresso em todas as suas etapas.

Só assim ele cumprirá, para as atuais e futuras gerações, o que ele representou para quem construiu essa que é a mais importante experiência de um partido socialista, de massas, democrático e libertário.

Brasília, 3 de dezembro de 2016.

MUDA PT”.

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