Romário Schettino -
Foi no final de novembro de 1956, há exatos 60 anos, que Fidel Castro, Che Guevara, Raul Castro e mais 80 companheiros embarcaram no Iate Gramma para dar início à Revolução que mudou os rumos de Cuba e da América Latina.
A marcha guerrilheira começou em Sierra Maestra e terminou em Havana no Natal de 1959 com a expulsão do ditador Fulgêncio Batista. A partir desse momento, a ilha deixaria de ser o prostíbulo norte-americano no Caribe para ser uma espécie de Gália na resistência ao imperialismo capitalista dos Estados Unidos. "A los imperialistas americanos, ni un tiquitito asi', costumava dizer Fidel enquanto gesticulava.
Nesses 57 anos a revolução cubana passou por muitas fases, desde a aliança prioritária com a antiga União Soviética, que comprava toda a produção de açúcar da ilha e dava sustentação política, até a queda do Muro de Berlim. A URSS nunca apostou na industrialização da ilha, mas garantia militarmente a sua proteção diante das ameaças de invasão dos EUA.
A crise dos mísseis em Cuba, de 1962, só terminou depois que um acordo foi assinado por Kennedy e Krushev em torno da retirada dos mísseis norte-americanos na Itália e na Turquia.
No período seguinte, houve várias tentativas de exportar a revolução cubana para a América Latina, mas o assassinato de Che Guevara na Bolívia alterou os planos. Cuba manteve seu apoio aos revolucionários da África, para onde mandou soldados e médicos.
A expulsão de Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA) isolou o governo castrista, mas não impediu que o governo de Fidel priorizasse a educação e a saúde pública para a população, que tinha todo tipo de privação alimentícia e habitacional, mas não morria de fome nem tinha moradores de rua. A reforma agrária foi fundamental para garantir o racionamento alimentar.
Eram pobres, mas não miseráveis. A situação econômica dos cubanos piorou com os embargos econômicos decretados pelos Estados Unidos. Nenhum país aliado dos EUA pode fazer comércio com Cuba. Muitas operações de comércio são triangulares, o que aumenta os custos de qualquer produto.
Essa situação imoral tem prejudicado o desenvolvimento de Cuba, apesar de muitos furos no bloqueio estarem em prática, inclusive por empresários norte-americanos. Raul Castro iniciou reformas políticas importantes, mas ainda faltam muitos passos. O fim do bloqueio pode apressar o ritmo das mudanças em Cuba.
Cinquenta anos depois, com a eleição de Barack Obama foi possível a reabertura diplomática entre Cuba e EUA. O embargo não foi retirado porque depende de aprovação no Congresso americano que ainda teme reação dos cubanos de Miami, também conhecidos como "gusanos (vermes) de Miami".
O Brasil, com a redemocratização, abriu as portas para Cuba e tem avançado nos negócios estratégicos para ambos os países. A construção do Porto de Mariel, com empréstimos do BNDES para empresas brasileiras é um exemplo vitorioso. A vinda de médicos cubanos para o programa Mais Médicos foi outro passo importante nas relações bilaterais.
DILMA E LULA - A presidenta Dilma Rousseff lamentou a morte do "comandante" Fidel Castro. Ela disse que é motivo de "luto e dor" a perda do líder da revolução cubana, uma das "mais influentes expressões políticas do século 20".
"Fidel foi um dos mais importantes políticos contemporâneos e um visionário que acreditou na construção de uma sociedade fraterna e justa, sem fome nem exploração, numa América Latina unida e forte", afirmou Dilma.
"Um homem que soube unir ação e pensamento, mobilizando forças populares contra a exploração de seu povo. Foi também um ícone para milhões de jovens em todo o mundo".
O ex-presidente Lula também lamentou a morte de Fidel Castro: “Para os povos de nosso continente e os trabalhadores dos países mais pobres, especialmente para os homens e mulheres de minha geração, Fidel foi sempre uma voz de luta e esperança”.
Lula emitiu nota afirmando que “seu espírito combativo e solidário animou sonhos de liberdade, soberania e igualdade. Nos piores momentos, quando ditaduras dominavam as principais nações de nossa região, a bravura de Fidel Castro e o exemplo da revolução cubana inspiravam os que resistiam à tirania”.
Lula conheceu Fidel em julho de 1980, em Manágua, durante as comemorações do primeiro aniversário da revolução sandinista. “Sinto sua morte como a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível, do qual jamais me esquecerei”, lembra.