"A vida é de quem se atreve a viver".


Geniberto Paiva Campos
Coração de estudante: Ocupar, um ato político

Geniberto Paiva Campos -

O jogo da antipolítica foi iniciado há tempos. Há pelo menos 12 anos, um trabalho diuturno de desqualificação da classe política: “Todos os políticos são sujos e corruptos; só pensam em levar vantagem em tudo; não defendem os interesses do povo, nem do país”.

Consequentemente, ”a prática política é algo também sórdido, condenável em todos os sentidos. Nós estaríamos bem melhor sem a política”.
 
Como se pode perceber, a lógica consiste simplesmente em desqualificar os políticos e o jogo da política. Trata-se a política como algo sujo, prejudicial ao Brasil. “Eles” vêm roubando sistematicamente a Petrobrás. As licitações somente servem para atender seus interesses escusos. Portanto, há que ser desencadeada uma operação de salvação – essa a palavra mágica – para livrar o país, para sempre, dessa corrupção desenfreada, incontrolável, que nos arruína.

Repetido como um mantra e de forma sistemática pelos órgãos de comunicação, esse discurso tolo, primário, tem, no entanto, a capacidade de penetrar na alma e na consciência de indivíduos sensíveis, sobretudo das camadas médias da população brasileira.

Crédula e crente, por absoluta necessidade (- eles pensam por nós...).

Assim, com sua ótica simplista, simplória, passa a ver o mundo – cada vez mais complexo, belo e cheio de desafios – como algo a ser enquadrado nos rígidos moldes da ideologia neoliberal. Ultrapassada, estúpida e sem nenhum futuro. E repetem, sem sequer ruborizar, os mais tolos chavões criados por “jornalistas” (a voz do dono), sempre obedientes ao comando dos seus patrões.

Criando uma cidadania de tolos obedientes, induzidos a assumir atitudes e crenças neofascistas, convenientemente esquecidos do estrago que os regimes totalitários fizeram nos países que acreditaram em suas “verdades”.

Tornou-se, então, permitido e de bom tom repetir estultices nas marchas de domingo, coloridas de amarelo: “escola sem partido/basta de Paulo Freire/vão para Cuba” e outras sandices criadas nos laboratórios midiáticos. Preparando, para um futuro bem próximo, uma nação de bobinhos, facilmente manipuláveis.

Mas há um detalhe sórdido nessa campanha: o seu direcionamento prioritário para o campo progressista, buscando criminalizar, seletivamente, seus integrantes.

Com isso, pretendem “neutralizar” sua militância, afastando-a de qualquer veleidade de Poder, garantindo o espaço para o exercício inconteste da elite, num jogo que, como se sabe, não foi feito para amadores.

Dessa forma sorrateira, conseguiram “cassar” o voto de mais de 50 milhões de brasileiros, ao afastar do alto comando do país, de forma ilegítima, fraudulenta a presidente reeleita, em 2014, por decisão soberana da maioria inconteste dos eleitores, para mais um mandato.

Isso foi feito de tal forma que gerou um estado de permanente perplexidade no campo democrático. Por longas semanas incapaz de organizar reações consistentes ao esbulho político eleitoral da Elite.

As portas do Congresso Nacional e do Poder Executivo se fecharam, tornando-os insensíveis a qualquer tipo de negociação política.

Estava, assim, instalado um novo período autoritário no Brasil. A ditadura dos medíocres. Da antipolítica. Uma ditadura envergonhada. Apoiada em maiorias obtidas de forma discutível no Congresso Nacional. Porém autoritária, como todos os regimes de exceção. E pior, disposta a entregar sem nenhum pudor as riquezas e a soberania do país aos seus patrões alienígenas.

“Eis senão quando” um inesperado grupo de atores políticos assume a vanguarda, ainda que transitória, da luta pelo retorno à democracia e à legítima participação do povo nas decisões que afetam os seus verdadeiros interesses.

UMA GERAÇÃO ESPONTÂNEA - (- Nossa  ocupação não é apenas pela reforma do ensino. Queremos mudar, sim, esse governo usurpador e fraudulento!).

Os estudantes (sempre eles! em atitude de repúdio às decisões do governo espúrio que tomou de assalto o poder), para demonstrar seu inconformismo e sua revolta, assumindo todos os riscos, decidiram, iniciar num movimento de legítima rebeldia, ocupar suas escolas.  

Entendendo que são espaços públicos destinados à formação de cidadãos livres e conscientes. Não apenas de robôs obedientes aos ditames da Elite e da ideologia neoliberal.

Num movimento pacífico de ocupação, estão a mostrar aos adultos, ainda atônitos e perplexos, uma forma alternativa de fazer política e dessa forma, colocando o governo Temer contra a parede.

Ampliando seu legítimo espaço de atuação consciente e cidadania, a juventude estudantil decidiu contestar um governo que reconhece como frágil e ilegítimo. Obrigando-o a travar o necessário diálogo político. Ensinando aos novos donos do poder que não se faz reformas de tal profundidade, tão somente com a suspeitíssima votação em bloco do Congresso Nacional.

É fundamental o debate que envolva a maioria, senão a totalidade da população, em plebiscitos e referendos.

Incapaz de estabelecer um diálogo franco e honesto com os jovens estudantes, como seria natural, até mesmo essencial nas circunstâncias, o governo Temer apela para algo que a cartilha neofascista recomenda fazer em momentos de confronto político: criminalizar o movimento estudantil; atribuir intenções ilegítimas e criminosas; ameaçar com processos judiciais os pais e/ou responsáveis pelos alunos.

Enfim, pronto a usar as velhas técnicas totalitárias de intimidação dos jovens. Absolutamente incapaz de reconhecer a coerência e a legitimidade das ações de uma juventude, que se sentindo ameaçada em seu presente e em seu futuro pelas estranhas decisões de um governo sem voto e sem apoio popular, demonstra claramente o seu inconformismo com tais decisões, ilegítimas e espúrias em sua origem e em suas intenções.

Talvez seja difícil aos integrantes do atual governo, neófitos na implantação de regimes ditatoriais, agora esquecidos da prática política, perceber a real natureza do movimento de rebeldia estudantil.

Vale, então adiantar alguns esclarecimentos, para reflexão:

a) O que o Movimento não é:
- coisa de estudantes baderneiros e desocupados;
- caso de polícia;
- algo a ser reprimido pela força, pela coação e pelo amedrontamento;
- protesto orientado por partidos políticos;
- uma nova forma de introduzir o tempo integral nas escolas.

b) O que é e o que pretende o Movimento:
- é uma ação tática, de natureza política, legítima e justa;
-  objetivo: mostrar a discordância dos estudantes com o atual governo;
- alertar a população sobre a atual situação das escolas públicas;
- trazer ao livre debate a urgente necessidade de repensar/reinventar a Educação;
- exercer a Cidadania, um direito inerente à juventude;
- praticar a desobediência civil (“que sera tamem”).

 

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