Até o dia 22 de abril apresentação dos filmes, em retrospectiva integral, da única cineasta do cinema novo brasileiro. No Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília. Entrada franca.
Aula magna com a diretora Helena Solberg e sessões comentadas por pesquisadores especialistas e debates. A mostra traz temáticas sobre o feminino, conflitos políticos históricos e ficção, tudo o que tem a ver com sua trajetória.
A cineasta Helena Solberg (que completa 80 anos em junho) assina a direção de 17 filmes, que serão exibidos integralmente em retrospectiva inédita. Em tempos de ênfase no papel e atuação feminina no mercado do cinema, a mostra terá exibições comentadas por pesquisadores especialistas e uma Aula Magna com a cineasta, além de debates.
Com curadoria de Carla Italiano e Leonardo Amaral, e produção da Associação Filmes de Quintal, a Mostra Helena Solberg, que começou no dia 5 e vai até o dia 22 de abril, é patrocinada pelo Banco do Brasil, com entrada franca para todas as sessões. As exibições serão realizadas até o dia 22 de abril.
Helena Solberg tem uma carreira singular que completa cinco décadas, tendo vivido mais de trinta anos nos EUA. Sua militância política e feminista, somada à experiência com o Cinema Novo brasileiro, resultou em uma cinematografia rara, atenta aos movimentos de sua época e engajada em modos de olhar e atuar no mundo.
MOSTRA E TRAJETÓRIA
Reconhecida por ser a única diretora mulher a participar do Cinema Novo, em sua estreia com o emblemático curta-metragem A Entrevista (1966) Solberg entrevista moças de formação burguesa do Rio de Janeiro sobre casamento, sexo e política, enquanto a imagem de uma noiva se preparando para o casamento é desmistificada pelo áudio das entrevistas.
Nos anos 70 do Brasil sob a ditadura militar, muda-se para os Estados Unidos, onde vive um longo período de liberdade criativa, com produções que refletem sobre a presença da mulher à frente e atrás das câmeras, questionando temas de representação e autoria no ensejo da onda de teorização feminista que ganhava força naquela década.
Sua primeira realização nos EUA condensa esses desejos: The Emerging Woman (1974), costurado coletivamente pelo grupo Women’s Film Project criado por Solberg em Washington.
As duas produções seguintes compõem o que a pesquisadora Mariana Tavares chamou de “Trilogia da Mulher”, marcada pelo esforço em alinhavar reflexão social e experimentação na própria forma fílmica: A Dupla Jornada (1975), que examina as condições da mão de obra feminina na Argentina, México, Venezuela e Bolívia, e Simplesmente Jenny (1977), que se dedica à vivência de três jovens em um reformatório boliviano para adolescentes.
Tomando como tema as problemáticas das relações políticas entre Estados Unidos e América Latina, na segunda frente de investigação de seu cinema, Helena dirige e produz seis documentários politicamente engajados.
No final dos anos 70 até o começo dos anos 90, as produções analisam a ação da política externa dos EUA em apoio às ditaduras latino-americanas nos anos 1980 e a capacidade de mobilização civil frente a regimes totalitários. Dentre eles está o aclamado Das Cinzas: Nicarágua Hoje (1982), sobre a Revolução Sandinista vista sob o olhar de uma família, vencedor de um Prêmio Emmy em 1983.
Em 1995, lança nos cinemas dos EUA e do Brasil seu filme de maior reconhecimento internacional, “Carmen Miranda: Bananas Is My Business”, uma mistura de documentário e ficção que narra a vida e a carreira de Carmen Miranda. A produção também dá voz a questões políticas, abordando o olhar estrangeiro sobre o Brasil da época. Convidado a inúmeros festivais, ganhou prêmio de Melhor Filme em cinco países, inclusive no Festival de Brasília. Esse filme foi exibido no domingo, dia 8/4.
A atual fase da carreira de Helena Solberg aponta para novos rumos: o longa-metragem Vida de Menina (2004), baseado no diário de Helena Morley, marca a estreia da realizadora na direção de uma adaptação ficcional, e o sucesso de crítica e público Palavra (En)cantada (2009), realiza uma viagem histórica pelas relações entre música popular e poesia brasileira, com depoimentos de grandes nomes da nossa cultura. O documentário ganhou o prêmio de Melhor Direção no Festival do Rio e foi o filme do gênero mais assistido nos cinemas brasileiros no ano.
“A Alma da Gente” (2013), codirigido com David Meyer, enfoca a ausência do estado através de um grupo de dança na Favela da Maré. Retomando com força a pauta feminista, em 2017 realiza o longa “Meu Corpo Minha Vida”, e levanta a bandeira de uma das discussões mais atuais nos contextos sociais e políticos do país: a descriminalização do aborto.
DEBATES
12/04 – Quinta
19h – Exibição de A Terra Proibida, seguida de debate com a profa. Dácia Ibiapina (Unb)
14/04 – Sábado
17h – AULA MAGNA com Helena Solberg
Classificação indicativa: 12 anos
17/04 – Terça
19h – MESA REDONDA Atuação feminista e criação cinematográfica com as professoras Roberta Veiga (UFMG) e Florence Dravet (Univ. Católica de Brasília). Mediação: Carla Italiano e Leonardo Amaral
Classificação indicativa: 12 anos
PROGRAMAÇÃO
10/4 – Terça
19h30 – Brasil em Cores Vivas (30’, 1997, digital), A Alma da Gente (80′, 2013, digital) / 14 anos
11/4 – Quarta
19h30 – Retrato de um Terrorista (28′, 1985, digital), A Conexão Brasileira (58′, 1983, digital) / 16 anos
12/4 – Quinta
17h – Meu Corpo Minha Vida (73′, 2017, digital) / 16 anos
19h – A Terra Proibida (58′, 1990, digital) / 16 anos
*Seguida de debate com Dácia Ibiapina
13/4 – Sexta
17h30 – Palavra (En)cantada (84′, 2009, digital) / 12 anos
19h30 – Das Cinzas… Nicarágua Hoje (60′, 1982, digital) / 16 anos
14/4 – Sábado
17h – AULA MAGNA com Helena Solberg (com tradução em libras) / 12 anos
19h30 – Meio-dia (11′, 1970, digital), Vida de Menina (101′, 2004, digital) / 14 anos
15/4 – Domingo
17h – Simplesmente Jenny (32′, 1977, digital), A Dupla Jornada (54′, 1975, digital) / 16 anos
19h – Brasil em Cores Vivas (30’, 1997, digital), A Alma da Gente (80′, 2013, digital) / 14 anos
17/4 – Terça
19h – Mesa-redonda Atuação feminista e criação cinematográfica / 12 anos
com as professoras Roberta Veiga e Florence Dravet
18/4 – Quarta
19h30 – Meio-dia (11′, 1970, digital), A Entrevista (20′, 1966, digital), A Nova Mulher (40′, 1974, digital) / com legenda descritiva / 14 anos
19/4 – Quinta
17h – Meio-dia (11′, 1970, digital), Vida de Menina (101′, 2004, digital) / 14 anos
19h30 – Carmen Miranda: Bananas Is My Business (92′, 1994, digital) / 14 anos
20/4 – Sexta
17h30 – Chile: Pela Razão ou Pela Força (60′, 1983, digital) / 16 anos
19h30 Terra dos Bravos (58′, 1986, digital) / 14 anos
21/4 – Sábado
17h – Retrato de um Terrorista (28′, 1985, digital), A Conexão Brasileira (58′, 1983, digital) / 16 anos
19h – A Terra Proibida (58′, 1990, digital) / 16 anos
22/4 – Domingo
17h – Meu Corpo Minha Vida (73′, 2017, digital) / 16 anos
19h – Meio-dia (11′, 1970, digital), A Entrevista (20′, 1966, digital), A Nova Mulher (40′, 1974, digital) / com legenda descritiva / 14 anos
SINOPSES DOS FILMES DA MOSTRA
A ENTREVISTA (20 min, 1966, Brasil)
Sinopse: O filme teve como base uma série de entrevistas feitas pela realizadora com jovens do mesmo meio social. Por trás dessas entrevistas surge um perfil convencional de “mulher”, figura idealizada por certa aura de romantismo, costurado por uma montagem que relaciona questões da opressão feminina com a repressão militar vivida pelo país.
Exibições/Prêmios: Festival Internacional de Cracovia 1968, Festival Dei Popoli Firenze 1969.
MEIO-DIA (11 min, 1970, Brasil)
Sinopse: Alunos revoltados em sala de aula organizam um motim, tendo como contexto o período da ditadura militar e a música de Caetano Veloso É Proibido Proibir.
A NOVA MULHER (The Emerging Woman, 40 min, 1974, Estados Unidos)
Sinopse: Primeiro filme dirigido pela cineasta nos EUA, The Emerging Woman percorre 170 anos de história do movimento feminista no país e na Inglaterra (de 1800 até 1974), através de diários, manifestos, reportagens, cartas e livros de ativistas. O documentário conta também com fotografias e imagens de arquivo de jornais cinematográficos, inaugurando a série “Trilogia da Mulher”, realizada em conjunto com o coletivo Women’s Film Project.
Exibições/Prêmios: American Film Festival 1975 (Blue Ribbon Award Winner)
A DUPLA JORNADA (The Double Day, 54 min, 1975, Argentina / México / Bolívia/Venezuela)
Sinopse: Filmado em fábricas no México e na Argentina, e em coletivos de mulheres na Bolívia e Venezuela, A dupla jornada examina as condições da mão de obra feminina como força de trabalho na América Latina.
Exibições/Prêmios: Mannhein 1976, Nyon 1976, Perth 1976, Bombay 1976, American Film Festival 1977.
SIMPLESMENTE JENNY (32′, 1977, Bolívia)
Sinopse: Três jovens (Jenny, Marli e Patricia) relatam suas histórias de prostituição forçada, e suas fantasias de ascensão social, casamento e felicidade, em um reformatório para adolescentes na Bolívia.
Exibições/Prêmios: American Film Festival 1977 (Blue Ribbon Award Winner), Leipzig Film Festival 1978, Jamaica Film Festival 1979.
DAS CINZAS… NICARÁGUA HOJE (From the Ashes… Nicaragua Today, 60 min, 1982, Nicarágua)
Sinopse: A partir da história de uma família na Nicarágua, o filme aborda a trajetória do Movimento De Libertação Sandinista e sua luta contra o regime ditatorial de Somoza. Com raras imagens de arquivo, o documentário revela a intervenção da Marinha Americana no país entre 1912 e 1933 e a história de Augusto Sandino, que organiza a rebelião camponesa de 1920 e torna-se símbolo da resistência nacionalista contra a invasão estrangeira.
Exibições/Prêmios: Chicago Film Festival 1982 (Silver Hugo Award), American Film Festival 1982 (Red Ribbon Award Winner), Global Village Documentary Festival 1982 (Best Film)
A CONEXÃO BRASILEIRA (The Brazilian Connection, 58 min, 1982-1983, EUA/Brasil)
Sinopse: Em 1982, a crise da dívida externa brasileira era pauta constante na mídia do Brasil e dos EUA. O não pagamento da dívida e o caos econômico que resultaria com a moratória são analisados em The Brazilian Connection, realizado no calor das atividades eleitorais quando os brasileiros, após 18 anos de ditadura militar, foram às urnas para eleger governadores e deputados federais e estaduais.
Exibições/Prêmios: Global Village Documentary Festival 1983 (Best Film), Third National Latino Film Festival of New York 1983 (Best Film)
CHILE: PELA RAZÃO OU PELA FORÇA (Chile: By Reason or By Force, 60 min, 1983, Chile/Estados Unidos)
Sinopse: O filme examina as grandes manifestações contra a ditadura no Chile, na ocasião do décimo aniversário do golpe do General Augusto Pinochet.
Exibições/Prêmios: Festival do Rio 1985.
RETRATO DE UM TERRORISTA (Portrait of a Terrorist, 28′, 1985, EUA/Brasil)
*Co-direção de David Meyer
Sinopse: Na tentativa de refletir sobre os sucessivos atentados contra cidadãos e instituições norte-americanos pelo mundo, o documentário se volta para o depoimento de dois personagens: Fernando Gabeira, então candidato ao governo do Rio de Janeiro e que havia participado, em 1969, do sequestro de Charles Elbrick; e Diego Asencio, ex-embaixador americano no Brasil, que fora sequestrado pelo grupo guerrilheiro M19 na Colômbia, em 1980.
TERRA DOS BRAVOS (Home of the Brave, 60 min, 1986, Brasil/Estados Unidos/Suíça)
Sinopse: Motivados pelos debates da Segunda Conferência Mundial sobre Racismo e Discriminação Racial, organizada pela ONU em Genebra em 1983, lideranças indígenas falam sobre as ameaças que enfrentam na época. O documentário se passa em três continentes: nos EUA, com os Hopi e os Navajo, na Amazônia e no altiplano da Bolívia, e em Genebra, onde ameríndios se unem para a criação de uma rede internacional indígena.
A TERRA PROIBIDA (The Forbidden Land, 58′, 1990, EUA/Brasil)
Sinopse: The Forbidden Land analisa os conflitos entre a Igreja Católica tradicional e sua ala progressista, manifesta na Teologia da Libertação, tendo como mote a luta dos trabalhadores sem terra no Brasil.
CARMEN MIRANDA: BANANAS IS MY BUSINESS (Carmen Miranda: Meu Negócio É Bananas 92 min, 1994, Brasil) - (foto abaixo).
Sinopse: O filme conta a extraordinária história de Carmen Miranda, nascida em Portugal e criada no Brasil, e que em 1939 vai para os Estados Unidos e se torna a mais famosa brasileira a conquistar as telas de Hollywood. No entanto, para os norte-americanos, ela sempre foi a figura caricata com uma pilha de frutas na cabeça. O filme tenta retirá-la desse estigma, conferindo-lhe o que há de mais fundamental: sua identidade. Este filme foi exibido no domingo, dia 8 de abril.
Exibições/Prêmios: Festival de Brasília 1994 (Melhor Filme), Chicago International Film Festival 1995 (Melhor Docudrama), Festival Del Cine Nuevo Latinoamericano de Havana 1995 (Melhor Documentário), Festival International Cinematografico Del Uruguay 1996 (Melhor Filme – Prêmio Iberoamericano), Encontros Internacionais de Cinema de Portugal 1996 (Melhor Filme – Júri Popular).
BRASIL EM CORES VIVAS (Brazil in living colours, 30′, 1997, Brasil)
Sinopse: Brasil em Cores Vivas é um documentário encomendado pelo Channel 4 Television da Inglaterra sobre a nova revista RAÇA direcionada aos negros brasileiros, fundada pelo jornalista Aroldo Macedo em 1996. Pensaram na época que não teria público, mas RAÇA contrariou todas as expectativas e foi um sucesso imediato.
VIDA DE MENINA (101 min, 2004, Brasil)
Sinopse: Um Longa-metragem ficcional de época, Vida de menina é baseado no diário de Helena Morley, uma garota de província que viveu em Diamantina-MG ao final do século XIX, após a abolição da escravatura.
Exibições/Prêmios: Festival de Gramado 2004 (Melhor Filme – Júri Oficial e Popular, Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Música), Festival do Rio 2004 (Melhor Filme – Júri Popular), Festival de Cinema de Natal 2005 (Melhor Filme), Cineport Portugal 2006.
PALAVRA (EN)CANTADA (84 min, 2009, Brasil)
Sinopse: O documentário traça uma viagem através da história do cancioneiro brasileiro, com uma atenção especial para a relação entre poesia e música. De poetas provençais ao rap, do carnaval de rua aos poetas do morro, da bossa nova ao tropicalismo, o filme traça um panorama da música brasileira até os dias de hoje, costurando depoimentos, performances musicais e uma surpreendente pesquisa de imagens.
Exibições/Prêmios: Festival do Rio 2008 (Melhor Direção), Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 2008, FestCine Goiânia 2008, Festival do Cinema Brasileiro de Paris 2009, Premiere Brazil – MoMa 2009.
A ALMA DA GENTE (83 min, 2013, Brasil)
*Co-direção de David Meyer
Sinopse: Adolescentes, moradores da Favela da Maré no Rio de Janeiro, são selecionados para um espetáculo de dança sob o comando do coreógrafo Ivaldo Bertazzo, em um processo que incorporava as experiências cotidianas relatadas pelos próprios dançarinos. Dez anos depois, David Meyer e Helena Solberg partem em busca de alguns dos integrantes desta experiência para fazer um balanço de seu efeito em suas vidas, que muitas vezes tomaram rumos bastante diversos em relação às expectativas do passado.
Exibições/Prêmios: Fest Cine Brasil Montevideo 2013 (Melhor Filme), É Tudo Verdade 2013, Festival Cinemúsica Conservatória 2014, FIPA 2014, Mostra Cinema e Diretos Humanos 2014.
MEU CORPO MINHA VIDA (73 min, 2017, Brasil)
Sinopse: Documentário sobre o aborto no Brasil, um assunto controverso e explosivo. O filme acompanha o caso de Jandyra Magdalena dos Santos, personagem-chave que nos conduzirá através deste conflito.
SERVIÇO
Data: 3 a 22 de abril
Local: Centro Cultural Banco do Brasil Brasília
Horários: ver programação
Entrada franca.