Venício A. de Lima -
Em tempos sombrios, nada melhor do que um certo humor refinado e inteligente para aliviar tensões e incertezas. É isso que o novo livro do jornalista e escritor Márcio Bueno nos oferece em Faíscas verbais – A genialidade na ponta da língua que a Editora Gutenberg coloca agora no mercado.
Márcio Bueno é conhecido e reconhecido por seu excelente A origem curiosa das palavras – lançado em 2002 pela José Olympio e já em 6ª edição – um dicionário bem humorado sobre a origem de palavras que fazem parte de nosso vocabulário cotidiano e que repetimos, muitas vezes, sem saber exatamente a razão de seu significado.
Há décadas Márcio vem colecionando lampejos verbais de personalidades públicas – políticos, artistas, boêmios, cientistas, intelectuais, esportistas, militares, economistas, dentre outros – que chamam a atenção exatamente por serem improvisos diferenciados que ele chama de “faíscas verbais”.
Esses lampejos, disparados de supetão, são capazes de vencer um debate, desconsertar um entrevistador, derrubar um adversário com a força de um jab ou de um cruzado.
E, no caso de políticos – a maior parte das “faíscas” colecionadas – valem por si só, independentemente de concordarmos ou não com a posição que está sendo defendida. É essa coleção de tiradas geniais que Márcio reuniu no livro agora publicado.
O leitor (a) encontra tiradas geniais de políticos como José Maria Alkmin, Leonel Brizola, Jânio Quadros, Carlos Lacerda, Delfim Neto, Getúlio Vargas e Tancredo Neves; de artistas/intelectuais/jornalistas como Chico Buarque, Ary Barroso, Tim Maia, Stanislaw Ponte Preta, Barão de Itararé, Nelson Rodrigues, João Saldanha e Jaguar; e de esportistas como o hoje senador Romário, Dadá Maravilha, Garrincha e Neném Prancha.
Sem querer antecipar o prazer da leitura, reproduzo três de minhas “faíscas verbais” preferidas (são mais de quinhentas):
Em dia de mais uma decisão entre o Atlético e o Cruzeiro no campeonato mineiro de futebol, jornalistas aproveitam uma coletiva de imprensa e perguntam a Tancredo Neves para qual time ele vai torcer. Resposta: “Eu sou América, meu filho, mas gosto muito do Atlético, do Cruzeiro e de todos os nossos valorosos clubes do interior.”
Nos tempos em que a virgindade ainda era tabu, alguém pergunta a uma aristocrata britânica se ela era favorável ao sexo antes do casamento.Resposta: “Não atrasando a cerimônia, por mim, tudo bem...”
Só mais uma. Chico Buarque está ao lado de Edu Lobo quando alguém se aproxima e comenta: “Dizem que vocês dois são a dupla Pelé-Coutinho da Música Popular Brasileira.” Chico olha pra Edu e pergunta: “Você concorda, Coutinho?”
Recomendo, pois, enfaticamente mais esse brilhante trabalho de Márcio Bueno. É leitura leve e agradável que nos coloca em contato com a genialidade improvisada de figuras públicas que admiramos, mesmo sem concordar com elas.
Vale a pena a leitura de Faíscas verbais – A genialidade na ponta da língua.
__________
(*) Venício A. de Lima, professor aposentado da Universidade de Brasília, pós-doutor em Communications pela Universityof Illinois.