"A vida é de quem se atreve a viver".


Teatro para bebês
Atores falam da emoção de atuar para mães presidiárias e seus bebês

Angélica Torres Lima -

Após apresentarem o espetáculo Meu Jardim para mães com bebês detidas no presídio feminino Colmeia, da Papuda, os três atores do grupo paulista Sobrevento gravaram depoimentos da impactante experiência vivida.

Dois atores do grupo, Luiz André Cherubini e Maurício Santana, e o compositor da trilha sonora da peça, João Poleto, contam aqui essa primeira vivência artística dentro de um presídio. E a produtora do festival Clarice Cardell (La Casa Incierta) fez um arremate de tudo o que viu.

Luiz André Cherubini
“Fiquei muito impressionado. É uma oportunidade rara para nós artistas estarmos com um público em situação tão especial. Ao começar, bebês e mães ficaram um pouco desconfiados. Mas no decorrer do espetáculo foram se envolvendo, e foi bonito ver isso. Porque são três figuras masculinas em cena que, se num primeiro momento podem ter causado a impressão de um certo enfrentamento, logo vão se revelando como irmãos, parceiros, pessoas iguais, e que fazem um espetáculo no qual acreditam muito. Essa fé no que fazemos acaba envolvendo o público e lhe proporcionando uma experiência tão rica quanto é para nós”.
 
João Poleto
“No começo estávamos tateando, sem saber que relação iríamos estabelecer. Eram muitas mães e poucos bebês, algumas grávidas, mas aos pouquinhos os bebês tomaram conta: se acomodaram e de repente estavam todos, ao modo deles, prestando atenção no palco. E pronto. A conexão foi feita também com as mães, e a peça aconteceu”.
 
Mauricio Santana
“Foi tudo muito diferente para nós, desde tecnicamente, pelas restrições de material e equipamento permitidos no recinto, mas sobretudo pelo encontro com pessoas que estão proibidas de ter qualquer tipo de liberdade. Isso é emblemático para um espetáculo de teatro, ainda mais para bebês, por ser um encontro poético, que põe as pessoas em pé de igualdade: quanto atuamos para bebês não se sabe mais quem é bebê quem é ator: nos tornamos iguais. Então, é possível fazer um convite às espectadoras de uma situação assim, pra que elas não se esqueçam de que, mesmo em situação tão extrema, ninguém nos tira o direito de sonhar coisas melhores do que as que acontecem na realidade. Para mim foi muito emocionante. Eu nunca tinha ido num presídio. É chocante ver e saber de pessoas que estão vivendo uma situação assim tão triste, de tanta restrição. Foi uma experiência muito rica, um aprendizado, e agradecemos La Casa Incierta pelo convite e pela oportunidade”.
 
Clarice Cardell
“Estive hoje pela terceira vez na Colmeia, onde os grupos mudam rápido, porque são mães grávidas, mas algumas me reconheceram das apresentações anteriores que fizemos. Neste grupo eram 20 mães e oito bebês e, ao chegarmos, o que notei no ar foi uma grande dor, uma tristeza e uma amargura profundas. E a metáfora do espetáculo, que é a construção de um jardim no meio de um deserto, de certa forma se constelou muitas vezes ali, porque não poderia haver ambiente mais desértico da alma do que aquele espaço. E pouco a pouco, através dos bebês e da arte, ternura e sensibilidade foram emergindo e pequenos sorrisos se esboçando naqueles rostos tristes. Eu acho que um pequeno jardim foi plantado ali hoje”.

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