Macunaíma (Grande Otelo): Ai, que preguiça!
Minha alma está em brasa ou brisa, bro!

Antônio Carlos Queiroz (ACQ) –

Se eu fosse diabético, provavelmente morreria do excesso de xarope contido nos poemas atribuídos a grandes poetas que recebo pelo Zap. Da Clarice, da Cecília, do Drummond, do Mário… ai, que preguiça!

Piores, só os textos psicografados do Castro Alves. Se fossem mesmo dele, coitado, o baiano teria que ser reprovado lá no segundo ano da alfabetização.

Hoje me chegou um poema desvairado, imputado ao autor das Enfibraturas do Ipiranga. Com o aviso de que a peça é destinada às pessoas com 60 anos ou mais, logo me senti a própria “senectude tremulina”. 

No começo o beletrista diz: “Eu me sinto como aquela criança que ganhou um pacote de doces; /O primeiro comeu com prazer, mas quando percebeu que havia poucos, começou a saboreá-los profundamente”.

Depois da lambuzagem, lá pelas tantas ele diz: “O essencial é o que faz a vida valer a pena. / Quero cercar-me de pessoas que sabem tocar os corações das pessoas… / Pessoas a quem os golpes da vida ensinaram a crescer com toques suaves na alma”. Com açúcar e afeto de sobra no sangue, o cara só podia mesmo pedir socorro a um cirurgião cardiovascular!

O poema em tela (hoje diríamos: no monitor) foi outorgado na Internet ao grande Mário de Andrade e também ao pastor Rubem Alves, mas devera é de autoria de outro pastor ou teólogo, um tal de Ricardo Gondim. É apresentado como Minha alma está em brisa ou O valioso tempo dos maduros, embora o título original seja O Tempo que Foge (Coitado do Virgílio!).

No lugar do pacote de doces, o original traz uma bacia de jabuticabas, que um outro Mário de Andrade trocou por cerejas na versão angolana. A frase com as frutas do Brasil ficou assim: “As primeiras, ele (o menino) chupou displicentemente, mas percebendo que faltavam poucas, passou a roer o caroço”. Trepador de jabuticabeira e roedor de pequi desde criancinha, eu nunca vi ninguém roer caroço de jabuticaba! Pra despelar? Que besteira amarga! 

“Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.” Não, não, eu não disse nada, gente, só estou citando a frase seguinte do próprio autor depois das jabuticabas. Retomando agora: a peça que eu recebi no Zap tem muitas outras divergências e inserções. Parece garrafada de raizeiro. Não é uma versão, é uma diversão.    

Socorro! Estou sentindo sede, fome, canseira, os olhos estão ficando embaçados e já começo a sentir certo formigamento. Alguém aí tem uma injeção de insulina?

Ah, o poema original foi publicado nas páginas 102 e 103 de um livro do Gondim intitulado Creio, mas Tenho Dúvidas, publicado em 2007 pela Editora Ultimato, de Viçosa, Minas Gerais. A editora publica livros de lideranças evangélicas vinculadas ao Pacto de Lausanne, convocado em 1974 por um comitê liderado pelo televangelista norte-americano Billy Grana, digo, Graham.

Hipótese para uma próxima discussão: o Brasil está na merda que está, entre outros motivos, porque a nossa turma repassa essas porcarias que encontram nas redes sociais sem checar qualidade nem autoria! Pronto, falei!

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