O berro do humor contra os gritos do terror

Antônio Carlos Queiroz (ACQ) –

Por volta de 1973, eu com 17 anos, pedi ao professor Oswaldo Verano, um pintor acadêmico de Anápolis, para reproduzir O Grito do Tarzan numa camiseta.

A minha performance foi um sucesso em dose dupla: nas costas da camiseta tinha mandado pintar o Top! Top! do Fradim do Henfil. Pensando bem, fui um homem-sanduíche da política e do bom humor.

Desenhado pelo Ziraldo Alves Pinto (epa!), O Grito do Tarzan estreou a série dos Pôsters dos Pobres do jornal O Pasquim. Foi publicado no dia 6 de novembro de 1969, em preto e branco. Exatos seis dias antes tinha tomado a presidência da República o general Emílio Garrastazu Médici, no lugar da Junta Militar dos Três Patetas, que havia assumido o Planalto após a morte do general Costa e Silva.

O mandato do Médici foi inaugurado, portanto, com o lancinante Grito do Tarzan, embora não fosse fácil distingui-lo dos pavorosos gritos que saíam dos porões da tortura. Era o humor do modesto Pasquim contra o formidável terror do Estado.

O glorioso pôster do Ziraldo tornou-se um dos cartuns mais pirateados na Europa. Concorreu com o pôster do risinho sardônico da Mona Lisa e com O Grito do Edvard Munch.

Na versão original, o berro saiu em português, começando com a letra i. Na versão em inglês, o Ziraldo trocou o i pelo e, acrescentando alguns agás, como no nome do Netanyahu: “Eeeeaaaahhuuuu…”

Que época aquela, cheia de Dons Quixotes na imprensa alternativa. Na década seguinte o jornalista Cláudio Mello e Souza, assessor pessoal do coleguinha Roberto Marinho, diria do Millôr Fernandes, um dos criadores do Pasquim: “O Millôr acha que ele é o inventor da liberdade de imprensa”.

Como soía, o Millôr fez piada do comentário, fiel a um de seus princípios de ouro: “Contra a extrema direita. Contra a extrema esquerda. E, sobretudo, contra o extremo centro”.

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