Antônio Carlos Queiroz (ACQ) –
Continua preso, por não poder pagar a fiança de três salários mínimos fixada pela Justiça, o jovem paraense de 29 anos que hoje de manhã jogou tinta cor de sangue na rampa do Palácio do Planalto.
Segundo a repórter Bela Megale, de O Globo, ele fez isso para protestar contra o extermínio da juventude brasileira, processo que ele chamou de “genocídio”.
Ao ser detido pelos seguranças, disse: "Estou aqui pelo povo brasileiro, pela juventude brasileira. É a sétima juventude mais assassinada do mundo. Não tem uma política pública, isso é um protesto".
Parece que foi mesmo um protesto, uma denúncia do descalabro estrutural que vitima a juventude pobre do Brasil. Não parece ter sido simplesmente um ato de vandalismo, como reportou a grande imprensa. Tinta vermelha lavável sai logo, como de fato saiu, removida que foi logo depois do ato por seis faxineiros do Palácio do Planalto.
Duro mesmo é a gente se livrar do vandalismo em figura de gente que ocupa o terceiro andar o Palácio do Planalto, e que responde pelo nome de Jair Messias Bolsonaro. De suas mãos está escorrendo sangue verdadeiro de gente, da mesma cor da tinta que escorreu hoje de manhã na rampa do Palácio.
Em resumo: o Patrimônio Cultural da Humanidade sofreu um arranhão. Ó, horror! Já os brasileiros dessangram numa das piores crises da República, apenas agravada pela Covid-19.
A primeira controvérsia no caso do homem da tinta cor de sangue é a exigência do pagamento de fiança de três salários mínimos para ele sair da cadeia. É ponto pacífico, em teoria, que a Justiça não pode exigir de um pobre o pagamento de fiança. “Ah, ele gastou R$ 160,00 para comprar a tinta!”, dirão algumas pessoas mesquinhas, para dizer que ele não é pobre, as mesmas que chamam o cara de “vândalo”. Ora!
(Espaço para vocês discutirem a manifestação da desigualdade social no âmbito da Justiça).
A segunda controvérsia é o que a polícia estará fazendo com ele. Está sendo bem tratado ou está sendo torturado? Por que o caso está sob sigilo? A Defensoria Pública está em cima do lance? As Comissões de Direitos Humanos da Câmara Legislativa e da OAB estão atentas?
São perguntas que eu mesmo não posso responder no momento, por falta de reportagem.