Marilyn Monroe lendo Ulysses: o Bloomsday, a maior festa literária do mundo, é comemorado desde 1954 em vários países; incluindo o Brasil, em uma dúzia de cidades.
O Bloomsday de Brasília será virtual

Antônio Carlos Queiroz (ACQ) –

Assim como em vários lugares do mundo, em Brasília a Embaixada da Irlanda e a Livraria Sebinho vão promover o Bloomsday deste ano na Internet, por causa da pandemia do coronavírus.

Feriado nacional na Irlanda, o Bloomsday é a maior festa literária do mundo, realizada no dia 16 de junho, para comemorar o romance Ulysses de James Joyce, publicado em 1922 em Paris.

Inspirado na Odisseia de Homero, a obra pretende traçar a saga da Humanidade resumida numa jornada de 19 horas ao longo do dia 16 de junho de 1904 de um homem ordinário (comum), meio judeu, Leopold Bloom, terrivelmente apaixonado pela mulher, Molly Bloom. Que, segundo alguns críticos, Bloom acha que teria dormido com vários homens, 25 para ser exato. Outros teóricos dizem que isso só aconteceu na imaginação do pobre corno. Molly, em verdade, teria ficado só com ele e com o desgraçado do Blazes Boylan.

Lançamento - Nesta quinta, o embaixador Seán Hoy lançou o projeto da comemoração virtual do Bloomsday no YouTube, Instagram e outras plataformas, anunciando que até o dia 16 de junho serão divulgados 18 vídeos, um por dia, com a leitura de trechos de cada episódio de Ulysses.

Marcaram presença também no vídeo de lançamento a embaixadora do Brasil em Dublin, Eliana Zugaib, e Cida Caldas, representante da Livraria Sebinho.

O projeto está sendo coordenado pela professora de literatura Michelle Alvarenga, e executado por Gabriel Mustefaga, da 8itobits.

O embaixador informou que 10 exemplares de Ulysses serão sorteados no dia 16 de junho, quando irá ao ar um vídeo mais longo, incluindo canções irlandesas executadas pela banda Tanaman Dùl. Para concorrer, basta que os espectadores se identifiquem nos comentários dos vídeos. Os ganhadores receberão os livros pelos correios.  

Em Brasília - Pelo que eu sei, o Bloomsday começou a ser comemorado em Brasília em 2007, organizado pelo professor de teoria literária na UnB, Piero Eyben.

Por sugestão minha, a Livraria Sebinho incorporou o evento ao seu calendário a partir de 2012, com a colaboração de Eyben, Cristiano Paixão e outros professores da UnB.

Desde o início, a festa contou com a participação da banda Tanaman Dùl, liderada pelo músico Jesse Wheeler. Ele também foi responsável pela seleção de trechos retirados das três traduções do Ulysses em português do Brasil (Antônio Houaiss, Bernardina da Silveira Pinheiro e Caetano W. Galindo) para a leitura dramática por parte de funcionários da livraria.

A partir de 2015, eu passei a coordenar o evento, com a colaboração das professoras de literatura Eva Leones e Michelle Alvarenga.

Em 2016, a Embaixada da Irlanda, que já vinha apoiando o Bloomsday, incrementou a sua participação. De maneira entusiástica, o então embaixador Brian Glynn passou a dar palestras e a ler trechos do Ulysses.

Em 2017, houve um salto qualitativo. Antes realizado no auditório do subsolo da livraria, para um público de no máximo 100 pessoas, apertadas, a festa foi transferida para o térreo, em palco montado ao ar livre.

Com reserva antecipada de mesas, a comemoração atraiu público de mais de 400 pessoas. Houve a leitura dramática de trechos do romance pela professora Michelle Alvarenga, pelo ator André Aires e pelo músico Jesse Wheeler. Houve também uma apresentação de dança irlandesa pelo conjunto Celtas do Cerrado.

Nessa edição, a sexta, eu fiz uma palestrinha sobre o episódio 17 da obra, em que os personagens Bloom e Stephen trocam ideias sobre os mais variados assuntos, desde a astronomia até o arco descrito pelo jato da urina, relacionando esse capítulo com o interesse da obra por parte do cineasta Sierguêi Eisenstein, que o levou a cogitar de filmar O Capital de Karl Marx com base nas sacadas cinematográficas de James Joyce.

O’Shea - O sucesso do novo formato do Bloomsday repetiu-se no ano seguinte, 2018, em maior escala. Calcula-se que dessa vez o público presente e passante tenha alcançado a cifra das 600 pessoas. Uma novidade foi a participação do professor da Universidade Federal de Santa Catarina, José Roberto O’Shea, respeitado tradutor de William Shakespeare e James Joyce, que discorreu sobre a sua tradução de Os Dublinenses. O embaixador Brian Glynn fez a sua última apresentação, anunciando a sua despedida do Brasil.

Na sétima edição, eu fiz um comentário sobre o episódio 9 do romance, Cila e Caríbdis, mais especificamente sobre a teoria de Stephen Dedalus a respeito das obras de Shakespeare. Stephen diz que a peça Hamlet teria sido baseada na vida do próprio dramaturgo, que teve um filho, morto quando pequeno, chamado Hamnet, e cuja esposa, Ann Hathaway, o teria traído, assim como a rainha Gertrudes, mãe do príncipe Hamlet, traiu o pai dele com seu tio Cláudio. Bem, o próprio Stephen não acreditava muito nessa teoria…

No ano passado, eu não pude participar do show pois estava fora de combate depois de uma sigmoidectomia, o corte do trecho do intestino grosso antes do reto. O mestre de cerimônias foi o Jesse Wheeler, representando a figura de James Joyce. Michelle Alvarenga e o professor O’Shea também participaram do evento e, pela primeira vez, entrou em cena o novo embaixador da Irlanda, Seán Hoy, e sua esposa, Susan, que interpretou algumas canções relacionadas ao romance.  

Este ano, infelizmente, não vamos nos encontrar nem festejar no Sebinho nem saborear o tradicional irish stew regado a Guiness, com trifle e irish coffee de sobremesa. O jeito será encomendar algumas Guiness pelo iDrink para comemorar a história do Bloom e da Molly!

Sláinte!
Bloomsday 2020, diretamente da sua casa!

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