Patrícia Porto da Silva (*) –
Setores mais fortes da economia privada, bancos, empresas do agronegócio, indústrias, operadoras de seguros e planos de saúde, e demais organizações que operam no Brasil, com alto rendimento financeiro, deveriam ser os primeiros a oferecer ajuda ao Estado na atual crise da pandemia do coronavírus. Só o banco Itaú teve R$ 20 bilhões de lucro líquido ano passado.
No entanto, entidades representativas deste setor econômico até o momento sequer se pronunciaram a respeito. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que entre 2013 e 2015 soltou o pato na rua para ajudar a derrubar o governo Dilma Rousseff, ao que se sabe, até agora não se mexeu.
As demandas geradas pela pandemia não eram previstas, mas lançaram o país em situação de calamidade pública comparável a uma guerra mundial. Há exemplos históricos de união da sociedade em momentos como esse; foi assim que países se reergueram após grandes catástrofes.
De fato, há iniciativas de pessoas comuns, oferecendo os mais variados tipos de ajuda. Doações de água e produtos de limpeza são feitas em comunidades carentes. A chamada para trabalho voluntário acaba de atrair mais de seis mil inscritos. Jovens se oferecem para ajudar nas compras, artistas fazem apresentações gratuitas, professores de educação física produzem vídeos com exercícios que podem ser feitos em casa.
Gente simples tirando coelho da cartola, movidos por espírito de solidariedade e desejo de vencer coletivamente o desafio.
Diante disso, é estranho que representantes da elite ainda não tenham apresentado uma proposta conjunta para contribuir com o país de cujas concessões e isenções se beneficiam há décadas. Tal contribuição poderia ser feita na forma de instalações e equipamentos hospitalares, cestas básicas para a população, entre outros quesitos imprescindíveis para superação deste momento dificílimo que ameaça a sociedade brasileira com efeitos aterrorizantes.
Coisas que representariam apenas uma fração do que o extenso universo de consumidores brasileiros tem proporcionado ao setor mais rico da economia privada, em termos de lucratividade e saúde financeira.
Seria uma ótima oportunidade, por sinal, para a Vale recompensar parte dos prejuízos causados pelos desastres de Mariana e Brumadinho. Essa compensação não deveria se restringir aos diretamente atingidos, mas se estender a toda a população, em vista dos danos ambientais incalculáveis e talvez irrecuperáveis a se prolongarem por gerações.
Esperemos, pois, que os setores mais privilegiados da economia reconheçam sua responsabilidade e sua dívida com a sociedade brasileira, e participem concretamente na luta contra o avanço da pandemia do Covid-19 e suas terríveis consequências.
____________
(*) Patrícia Porto da Silva estudou letras na PUC-RJ, biologia na UERJ, mestrado em educação na UFRJ, professora inativa da rede pública do Rio de Janeiro. Ex-funcionária da Agência Nacional do Petróleo (ANP).