"A vida é de quem se atreve a viver".


Luiz Eduardo Soares: "Vacina não faz ninguém virar jacaré, mas governo fascista faz do Jacarezinho ensaio geral para a barbárie nacional.”
Quinta-feira Vermelha no Jacarezinho

Romário Schettino –

Quinta-Feira Vermelha, é assim que está sendo chamada a chacina da favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, no dia 6 de maio. Já são 28 mortos em condições de extrema violência. Esse banho de sangue, que se repete há muitos anos, parece não ter fim enquanto as políticas de segurança pública não levarem em conta a extrema pobreza, o desemprego, a falta de educação, o racismo estrutural e a total ausência do Estado.

A propósito dessa chacina do Jacarezinho, a maior em termos numéricos desde 2007, o antropólogo Luiz Eduardo Soares, autor do livro Desmilitarizar, segurança pública e direitos humanos, fez o seguinte comentário:

“Palavras se tornaram vazias ante o duplo genocídio, promovido pela pandemia, turbinada pela estupidez política que se alia à morte, e pelas ações brutais das polícias civis e militares, que se repetem há décadas contra negros e pobres, nas favelas e periferias. Essas operações abrem espaço para as milícias.”

Segundo Soares, “ante a impotência das palavras, restam duas sentenças sintéticas:

– Casa de vidro, voto de papel, coração de pedra, mãos sujas de sangue, esse o governo BolsoCastro [Bolsonaro/Cláudio Castro] do Rio de Janeiro, que chama execução de segurança.

– Vacina não faz ninguém virar jacaré, mas governo fascista faz do Jacarezinho ensaio geral para a barbárie nacional.”

Luiz Eduardo é um intelectual pioneiro no debate sobre segurança pública no Brasil. Foi secretário nacional de Segurança Pública no primeiro governo Lula, subsecretário de Segurança e coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania do Estado do Rio, no governo Garotinho, quando chegou a denunciar a “banda podre” da polícia do Rio e, por isso, foi demitido do cargo, ao vivo, no telejornal RJTV. Também trabalhou em Porto Alegre (RS) e Nova Iguaçu (RJ).

CDDH na Alerj

A deputada estadual do PSOL, Dani Monteiro, presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) está trabalhando para que as investigações apontem o quanto antes os responsáveis pela tragédia.

Uma das funções do Ministério Público é o controle externo da atividade policial. Apesar disso, o MP do Rio extinguiu, no início de 2021, o Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (GAESP), criado em 2015. Cabe agora à Procuradoria Geral de Justiça indicar qual órgão interno será responsável pela apuração das responsabilidades civis e penais das denúncias de violações de direitos, caso explícito da chacina do Jacarezinho.
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Leia aqui artigo relacionado: Por que a resposta ao massacre do Jacarezinho é essencial?

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