Romário Schettino –
Recebi pelos Correios o meu exemplar do livro do fotógrafo André Dusek, O ouro bruto – Serra Pelada em três tempos, que registra a história dramática do maior garimpo a céu aberto do mundo, feita em três visitas: 1980, 1996 e 2019.
A primeira visita aconteceu em 1980, em pleno regime militar brasileiro, e foi realizada a convite do Major Curió, quando André e o jornalista Zanoni Antunes estavam em outro garimpo, o “Goiaba”, perto de Conceição do Araguaia, a serviço do jornal Correio Braziliense. As fotos, publicadas no jornal brasiliense correram o mundo e ficaram famosas. Estavam ali registrados os dramas de cerca de 100 mil homens trabalhando, em condições precárias, buscando do sonho de ficar rico em meio à lama misturada com o ouro.
Na apresentação do livro, Milton Guran, fotógrafo e antropólogo, diz que “aquela foi uma grande aventura fotográfica acolhida internacionalmente, uma experiência iniciática que marca para sempre a vida de um fotógrafo”.
Dezesseis anos depois, em 1996, André voltou a Serra Pelada, mas o cenário era outro. Do garimpo já não existia mais nada. Dusek registrou a cratera gigante coberta por um grande lago. O garimpo havia sido fechado oficialmente em 1992 por Fernando Collor de Mello. Os poucos moradores resistiam e ainda lutavam pela sobrevivência. Mas a esperança foi finalmente soterrada quando a Cia. Vale do Rio Doce descobriu uma grande jazida a 430 metros de profundidade, que seria explorada apenas por extração mecanizada. Estava proibida a extração manual.
Na terceira visita, em 2019, André Dusek, registra a completa desolação. A antiga agência da Caixa Econômica, que havia comprado a maior parte das 45 toneladas de ouro que saíram de Serra Pelada, não existia mais. Uma comunidade pobre e desamparada ocupa o local.
A saga das fotos
Dusek relata no livro a saga dos negativos da primeira viagem: “Os negativos foram salvos milagrosamente de um incêndio e de um alagamento”. Isso porque a Ágil Fotojornalismo, agência recém-criada por um grupo de fotojornalistas de Brasília, em 1985, sofreu um incêndio criminoso, “até hoje não esclarecido”. E o alagamento ocorreu na casa de seu pai, o artista plástico Milan Dusek, quando um vazamento na caixa d´água molhou muitos envelopes do arquivo que preservava centenas de filmes. De novo os negativos de Serra Pelada saíram intactos para o bem da história do Brasil.
É por isso que essas fotos estão aqui transformadas em livro para a preservação da memória nacional. Uma história muito bem contada em texto e fotos pelo excelente André Dusek.
Por fim, é preciso dizer que o livro tem uma edição primorosa, com projeto gráfico de Clarissa Teixeira/André Dusek e com capa dura. Tradução para o inglês de Paula Simas e Margarete Oliveira.
O autor
André Dusek nasceu no Rio de Janeiro em 1956 e se mudou para Brasília em 1975. Formou-se em jornalismo na UnB, em 1979. Trabalhou na revista Manchete, Correio Braziliense, sócio da Agência Ágil de Fotojornalismo. Trabalhou na revista Isto É e no jornal Estado de S. Paulo. Atualmente vive em Florianópolis (SC).
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Como comprar o livro:
Escreva um e-mail – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. – para o André Dusek e solicite o número da conta bancária dele Forneça seu endereço completo, inclusive com CEP e um número de telefone para que o livro seja enviado.
Valor: R$ 90, mais o Correio, R$ 27,90, total: R$ 117,80.