Romário Schettino –
O crime de Donald Trump, que Bolsonaro promete repetir no Brasil de 2022 tem nome: SEDIÇÃO. Isso significa sublevação contra qualquer autoridade constituída; revolta, motim. Por extensão, perturbação da ordem pública; desordem, rebuliço. Ou seja, golpe mesmo, sem ser rebuscado.
Lá, esse crime do presidente dos EUA pode ser punido até com a pena de morte, pois trata-se de uma traição à Constituição do país. Não foi à toa que Trump recuou e prometeu posse ordeira. Pesa sobre ele a destituição antes do dia 20. Aqui, o TSE quer pagar para ver. O STF, idem, o Congresso Nacional, idem. O Ministério Público, idem.
A grande imprensa pagou para ver em 2018 e hoje está esperneando. Os ataques diários de Bolsonaro à liberdade de imprensa são medonhos, assustadores. Essa história de dizer que se não houver voto impresso ele (Bolsonaro) vai fazer pior no Brasil é uma ameaça, não é apenas uma mera opinião. O presidente da República não pode fazer esse tipo de ameaça. É mais uma intimidação aos poderes constituídos da União, como aquela que fez na porta do Quartel General de Brasília incitando o povo contra o Congresso e o STF.
O jogo democrático tem que ser transparente e todos os cidadãos são obrigados a se submeter às regras legais, caso contrário é a balbúrdia, o caos, a barbárie.
A escandalosa invasão do Capitólio, ao vivo e em cores, acendeu a luz vermelha em todo o mundo democrático. O presidente americano passou o dia tuitando e chamando seus correligionários para a invasão do Congresso, que se reunia para confirmar a vitória de Joe Biden. Quatro pessoas morreram. Com essa trapalhada final, Trump poderá ter dificuldade de se reerguer politicamente, mas o trumpismo, ou o nacional populismo que ele representa, está espalhado nos EUA e em outras terras. No Brasil de Bolsonaro, copia fiel desse modelo, a tendência é resistir a qualquer mudança no atual cenário, com o governo impregnado de militares de extrema-direita.
O colunista da Folha de S. Paulo, Celso Rocha de Barros, chamou a atenção para a live que Bolsonaro fez no dia 31 de dezembro, na qual ele disse: "Agora, o MP do Rio, presta bem atenção aqui: imagine se um dos filhos de autoridade do MP do Rio fosse acusado de tráfico internacional de drogas. O que aconteceria, MP do Rio de Janeiro? Vocês aprofundariam a investigação ou mandariam o filho dessa autoridade pra fora do Brasil e procuraria uma maneira de arquivar esse inquérito? Um caso hipotético, falando de um caso hipotético. (...) Caso um filho de uma autoridade do Ministério Público do Rio de Janeiro entrasse no inquérito da Polícia Civil do Rio e ali um delator tivesse falado que ele participava de tráfico internacional de drogas. Fica com a palavra as autoridades do Ministério Público do Rio de Janeiro".
É uma chantagem bastante clara e ninguém se espantou com o fato de ser o presidente da República atuando no papel de chantagista, impunemente.
Celso Rocha acrescenta: “O familismo amoral, que é a doutrina central do governo Bolsonaro: nada mais natural do que uma autoridade agir contra a lei e contra seus próprios deveres para beneficiar um parente ou amigo. É o ponto de encontro entre chantageador e chantageado”.
As dezenas de pedido de impeachment estão na mesa do presidente da Câmara. Pelo visto, continuarão sobre a mesa da próxima gestão em fevereiro.
Motivos não faltam para abrir o processo de afastamento do presidente. A irresponsabilidade no trato com a pandemia, o escândalo envolvendo a Abin na defesa dos filhos do presidente, a intervenção no trabalho da Polícia Federal, “rachadinha” envolvendo toda a família, ameaça à lisura do sistema eleitoral etc etc.
A oposição ao governo joga todas as suas fichas na eleição das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado, mas não está garantido que haverá grandes mudanças, pois a chave do cofre está nas mãos do Executivo. Não há nenhum sinal de republicanismo nos atos do presidente. A grana corre solta nos corredores e nos gabinetes do Legislativo.
Todos os alertas estão ligados e o modelo Trump é muito mais perturbador do que parece.
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