Romário Schettino –
Observadores mais atentos da política nacional acham ser possível que o Partido dos Trabalhadores venha a surpreender nessas eleições municipais. Se não fizer um grande número de prefeitos, poderá receber votos suficientes para ter muitos vereadores. Com todo o bombardeio midiático contra o ex-presidente, Lula transfere votos. Esses analistas dizem ainda que não fosse o confinamento obrigatório, Lula estaria percorrendo o pais de Norte a Sul distribuindo seu prestígio. Enquanto isso, Lula trabalha nas redes sociais.
Mas é verdade que na corrida para 2022, o ideal para qualquer partido com pretensões presidenciais será o de ter prefeitos eleitos nas capitais. O PT pode se contentar com alianças como a de Porto Alegre, com o PCdoB, e ajudar a eleger Manuela D´Ávila, ex-vice na chapa de Fernando Haddad. Há outra esperança em Recife, Marilia Arraes (PT) pode ir para o segundo turno com João Campos (PSB). Uma disputa complicada para dois partidos do mesmo campo político. Poderiam estar juntos.
No entanto, em três capitais importantes como São Paulo, Jilmar Tatto tem apenas 1% dos votos, no Rio, Benedita da Silva está um pouco melhor, com 8% – dificilmente irá para o segundo turno – e em Belo Horizonte o candidato do PT, Nilmário Miranda, tem 1%. Em BH Alexandre Kalil (PSD) pode se reeleger já no primeiro turno.
O quadro é preocupante para o partido de Lula. A estratégia de sair sozinho em muitas cidades pode ter efeito colateral desastroso em função do antipetismo alimentado desde o golpe de 2016 contra Dilma Rousseff. Mas pode também reafirmar o ânimo petista de ir à luta na reta final dos pleitos.
Há também quem se mire no exemplo do prefeito de Maricá (RJ), que deve se reeleger com 70% dos votos. Com mais de 90% de aprovação, a gestão de Fabiano Horta se notabilizou pela tarifa zero no transporte urbano, por ter criado uma moeda social – a Mumbuca – e o passaporte universitário, que já atende a mais de cinco mil estudantes por ano. Maricá é uma cidade relativamente pequena, com 160 mil habitantes, mas está sendo usada como exemplo de gestão para outras campanhas eleitorais do partido.
Foi pensando nos grandes colégios eleitorais como os de São Paulo e Rio, que o ex-deputado federal Wadih Damous divulgou no seu twitter que “o apoio do PSol à candidata do PT, Benedita da Silva, no Rio e o apoio do PT a Guilherme Boulos em São Paulo seria um gesto de maturidade e inteligência políticas. As chances da ida de ambos para o segundo turno aumentariam bastante. Esse é o pragmatismo que devíamos praticar.” Embora não esteja desprovido de razão, Damous nem foi levado em consideração. Esse acordo deveria ter sido fechado lá atrás, quando Marcelo Freixo (PSol) foi praticamente obrigado a desistir de concorrer porque o sectarismo tomou conta do debate.
Lula está comprometido com Tatto e não vai voltar atrás. No segundo turno, o PT terá que repensar sua estratégia. Se Boulos conseguir, ficará mais fácil para o PT, mas se ficar entre o bolsonarista Russomano e o dorista Bruno Covas? Ambos pavimentam 2022 para um lado ou para o outro, nunca para o lado do PT. Lula sempre disse que no segundo turno a eleição é outra.
Lula está em silêncio na questão do novo ministro que vai ocupar a vaga de Celso de Mello. Espera que seja julgada procedente a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro para que tudo volte ao seu leito normal. Kássio Marques é juiz garantista, como Celso de Mello. Aposta arriscada, mas não há escapatória para o futuro político de Lula.
Por fim, entre Lula e Bolsonaro há a Rede Globo. A Vênus do Jardim Botânico está desesperadamente em busca de uma terceira via. Quem sabe após os resultados eleitorais de 2020 o jogo possa ser jogado com mais clareza, sem fake news, sem golpes baixos, sem manipulação.
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