Romário Schettino –
Em toda parte o fogo se alastra, literalmente, no Equador e no Chile. Motivações não faltam para alimentar a revolta popular. E não se trata de influência da ficção cinematográfica como querem ver alguns. A violência nas ruas é filha do autoritarismo e da desigualdade, netas do neoliberalismo.
O sangue ferve e não há arte que supere a vida real. Cada povo sente na pele o incômodo das políticas de arrocho econômico que não levam em conta a distribuição da renda e a estabilidade política.
Segundo a edição especial da revista Forbes o número de bilionários brasileiros saltou de 180, em 2018, para 206 em 2019. A concentração da riqueza está nas mãos do setor financeiro e de poucos empresários no ramo da produção. Os maiores bilionários estão, sem nenhuma surpresa, em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Segundo a Forbes, o valor do patrimônio desses homens muitíssimos ricos saltou de R$ 975 bilhões (180 integrantes) em 2018, para R$ 1.205,8 trilhão (206 integrantes) em 2019. A série histórica, que começou em 2012, só cresce em relação à concentração, sobretudo no ramo dos investimentos com algumas variações no ramo das comunicações, do varejo, das bebidas, combustíveis e shoppings. Entre os muito ricos estão Jorge Paulo Lemann, o primeiro da lista com R$ 104 bilhões (bebidas – Ambev – e investimentos), a família Marinho - dona das Orqanizações Globo - (R$ 33 bi), Silvio Santos (R$ 1,6 bi) e Bispo Edir Macedo (R$1,4 bi), no ramo da comunicação.
E segue a lista da Forbes até chegar a 206 o número de ricos que tiveram suas riquezas amealhadas no setor financeiro, em primeiro lugar, depois no setor de alimentos e bebidas, atacadistas e varejo e comunicação.
São esses homens que comandam o Brasil de hoje e de sempre, aonde as coisas vão caminhando em banho-maria enquanto as reformas neoliberais avançam sobre os direitos da população. Tudo embrulhado com intrigas palacianas e familiares, xingamentos de toda ordem. Vagabundo pra lá, infiel pra cá. O certo é que o governo Bolsonaro não tem maioria consolidada e navega no mar de incerteza. Não consegue construir uma agenda consistente e há quem já aposte no fracasso da era bolsonarista.
Pelo sim, pelo não, é preciso acompanhar as sinalizações que vêm do Supremo Tribunal Federal, da Câmara e do Senado Federal. E, agora, do Partido Social Liberal (PSL).
Os filhos do presidente arrastam a República para o esgoto da incompetência, da milícia e da falta de compromisso com a população que votou no presidente sem saber o que ele pretendia quando dizia que ia acabar com a corrupção, com o comunismo e com os privilégios. Palavras soltas no ar que encantaram o senso comum.
A Justiça brasileira tem um compromisso com a democracia e precisa tomar decisões urgentes. Lula espera, o povo espera. No jogo democrático não há espaço para meio termo, ou se é comprometido com a Justiça ou se é conivente com a barbárie.
A onda anti-neoliberal pode chegar ao Brasil e o preço a pagar será muito alto.
Chilenos põem fogo no El Mercúrio (foto, abaixo)
O internauta Aurelio Michilis postou em sua página no Facebook que os manifestantes chilenos invadiram e incendiaram a sede do jornal El Mercurio, um dos periódicos mais antigos da América Latina, com 192 anos de existência. "Esse jornal sempre foi carne e unha, olhos e cérebro do neoliberalismo chileno. Fez acirrada campanha contra o governo Allende. Foi acusado de receber financiamentos da CIA. Apoiou o Golpe e a Ditadura Pinochet período em que se fortaleceu economicamente. Sempre se manteve contrário às reivindicações dos povos indígenas, especialmente os Mapuches", relembra Michilis.
El Mercúrio tem uma trajetória parecida com a das Organizações Globo no Brasil. Será isso uma mera coincidência? Os Marinho devem estar preocupados, ou não terão motivos?