Romário Schettino –
Quando vi Bacurau, filme dirigido pelos pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, sai do cinema com a sensação de que esse é um dos mais importantes filmes contemporâneos sobre o Brasil.
Bacurau desperta o interesse dos brasileiros pela sua pujança, condução das cenas, atuação de seu elenco (Sônia Braga, Udo Kier, Silvero Pereira etc) e por uma linguagem cinematográfica que nos remete aos bons tempos de Glauber Rocha (Deus e o Diabo na Terra do Sol) ao retratar o Brasil profundo.
A violência nua e crua em busca da Justiça, a resistência dos mais pobres diante da opressão, nos levam também a outro cineasta importante: Quentin Tarantino (Django Livre, 2012).
Bacurau denuncia o neoliberalismo selvagem que a tudo transforma em interesses pessoais e políticos. Mesmo sendo uma ficção, num lugar imaginado, com personagens do interior sem trajetória identificada, Bacurau revela ao espectador uma realidade nada piedosa e o faz reagir positivamente, no sentido da solidariedade, a cada momento do filme. E mostra que a resistência é possível e necessária para mudar a história.
Os cinemas estão lotados como nunca em todo o país, com aplausos entusiastas durante e ao final da exibição. Segundo o crítico Jean-Claude Bernadet, Bacurau é um “filme denso, consistente, competente, internacional no seu elenco e na premiação” e que, por isso, “adquiriu grande valor simbólico”.
No Brasil de Jair Bolsonaro, com os ataques diários às universidades e à pesquisa, à Agência Nacional de Cinema (Ancine), devastação do meio ambiente e a volta da censura, ir ao cinema e ver Bacurau é um alívio.