Romário Schettino –
Os desatinos, previsíveis, do (des)governo Bolsonaro estão movimentando amplos setores da sociedade na tentativa de organizar uma Frente Ampla em Defesa da Democracia. Esperam, com isso, deter o avanço da extrema-direita sobre os direitos fundamentais da pessoa humana, da liberdade de expressão, dos costumes.
A última aparição de Eduardo Bolsonaro exibindo uma arma durante visita ao pai no hospital e a declaração de Carlos Bolsonaro sobre a necessidade de um golpe de Estado contribuíram para aumentar o temor de que o Brasil está à beira do caos. Até Luciano Huck está com medo.
No entanto, dois assuntos são determinantes para o sucesso desta pretendida união que vai da esquerda, passa pela direita, centro-direita e chega à centro-esquerda: o impeachment de Dilma Rousseff, também conhecido como o golpe de 2016, e a prisão sem provas do ex-presidente Lula. Noam Chomsky foi à reunião de São Paulo e defendeu uma frente ampla, mas fez questão de incluir na pauta a libertação de Lula.
Sem isso, qualquer coisa que se chamar Frente Ampla, será restrita. Questões fundamentais como a política econômica do ministro Paulo Guedes é um divisor de águas que pode até ser adiado, mas o golpe de 2016 e a prisão de Lula são pontos sobre os quais todos terão que se debruçar. Não basta pensar só nas eleições municipais de 2020 com o pragmatismo de sempre.
O PSDB de FHC e a grande imprensa brasileira, que tanto exigem autocrítica do PT precisam fazer suas próprias autocríticas. Devem admitir que o Brasil chegou ao descalabro graças ao apoio que deram ao golpe e à prisão sem provas de Lula. A Vaza Jato é a constatação de tudo o que já foi dito pelo próprio Lula a respeito de sua condenação. O PDT também precisa refletir sobre o que significou a viagem de Ciro Gomes à Europa em pleno segundo turno.
O clima ruim no Brasil já tinha sido detectado quando Lula disse que o Supremo Tribunal Federal estava acovardado. Ele sabia do que estava falando. Convenhamos, Lula nunca foi um radical. Pelo contrário, sempre foi conciliador, pragmático até demais. O que a direita ganhou com o golpe e com Lula preso? Nada, a não ser ver Bolsonaro na Presidência da República despejando, diariamente, todo tipo de escatologia verbal e sem projeto de Nação.
O PT é chamado para colaborar com a formação da frente ampla, mas o que fazem o centro e a direita no Congresso Nacional? Apoiam Bolsonaro no desmonte das políticas sociais. Não há ingenuidade na política. As eleições municipais do ano que vem vão definir muitas alianças, mas o combate à extrema-direita precisa ser feito já, antes que seja tarde demais. E isso inclui libertar Lula.
Quem sabe a saída seja a formação de duas frentes, uma de esquerda e outra de direita, para enfrentar Bolsonaro e seus aloprados.