Romário Schettino –
No depoimento que deu à Câmara, ontem, o ex-juiz Sérgio Moro repetiu tudo o que já tinha dito no Senado. A estratégia de desgastá-lo, adotada pela oposição, tem surtido efeito, mas não o suficiente. A popularidade do agora ministro da Justiça, por enquanto, se mantém apesar do governo Bolsonaro estar se desmanchando.
O que isso significa? Que Moro está aprendendo a lidar com o parlamento como o político que se tornou ao assumir cargo de ministro. Ele se sustenta com uma plateia de seguidores barulhenta, embora de muito baixo nível. E pode estar se preparando para 2022. É uma hipótese.
Bolsonaro ainda não disse a que veio. O país está paralisado. É só confusão, xingamentos nas redes sociais e briguinhas internas. Desemprego aumentando e falhas graves na recuperação da economia. Não adianta pôr a culpa nos políticos. Estes também foram eleitos pela população e têm compromisso com seus eleitores, com o Brasil e fazem parte de um dos três poderes. O sistema é presidencialista, mas a coalizão não foi abolida com uma simples caneta bic.
A oposição precisa ter um pouco mais de paciência e renovar suas estratégias para o futuro. O Supremo Tribunal Federal (STF) ainda vai julgar a suspeição de Moro no processo do ex-presidente Lula. O resultado desse julgamento pode colocar mais lenha na fogueira dos exaltados que querem fechar o Supremo e o Congresso. Mas isso não tem grandes respaldos nem na direita nem no atual governo de extrema direita, que segue pisando em ovos. O Supremo disse que “tem couro duro”, ou seja, aguenta a pancadaria.
Os vazamentos publicados pelo Intercept ainda não acabaram. Há uma ameaça da Polícia Federal, comandada por Moro, de intimidar o jornalista Glenn Greenwald, que resiste com apoio de órgãos de defesa da liberdade de imprensa e da Constituição. Esses apoios constrangem Moro e fazem com que ele negue que esteja interferindo nas investigações da PF. Palavras de quem pensa que está enganando bobo.
No embate político, por mais que alguns queiram dizer que não existe mais nem esquerda nem direita, o que há é o fortalecimento desses dois campos. Resta saber quem ganha na disputa de narrativa. As redes sociais estão aí para fortalecer tanto um lado quanto o outro. A grande imprensa já está meio que coadjuvante nessa batalha, mas não deixa de ter sua importância. A TV Globo, especialmente, joga um papel relevante, mas está perdendo credibilidade quando assume sua parcialidade na defesa de Moro.
O deputado Glauber Braga (PSol-RJ) se encarregou de apontar o dedo no nariz de Moro e chamá-lo de juiz ladrão. O caldo entornou e o ex-juiz saiu de cena. A reunião na câmara foi encerrada aos berros daqueles que queriam seguir aplaudindo o seu “mito” do dia. A oposição cumpriu seu papel de desmascarar o fantoche que só ficava repetindo que “a culpa é do hacker”. Ninguém merece.