Romário Schettino –
O documentário Democracia em Vertigem, da diretora e roteirista Petra Costa, veiculado pela Netflix, já deixou, e continua deixando, muita gente com os olhos cheios de lágrimas e o coração apertado diante de imagens tão fortes sobre a recente degradação da democracia brasileira.
A diretora faz a narração misturando histórias pessoais, familiares, com o momento histórico da política brasileira. Seu avô foi um dos fundadores da empresa Andrade Gutierres, construtora envolvida nos chamados escândalos da Lava Jato. Petra conta tudo isso com um distanciamento digno de registro.
O enredo vai sobrepondo episódios da abertura política com as eleições diretas, seu primeiro voto (ela tem 36 anos) e a ascensão do Partido dos Trabalhadores sob a liderança de Lula. Cenas históricas, depoimentos verdadeiros dos beneficiados com as políticas públicas de proteção social e a reação da classe média insatisfeita com os seus resultados.
Também relata as incongruências de grande parte de sua família que votou em Bolsonaro, mesmo sabendo que ele pregava, e continua pregando, o extermínio de opositores como seus pais, declaradamente de esquerda. Sua mãe aparece no filme contando que ficou presa no mesmo presídio que Dilma Rousseff. Não há como não se emocionar.
Nesse mar de incertezas sobre o futuro do Brasil, o filme mostra cenas de turbulências e perigos iminentes. O roteiro esquece, ou despreza propositalmente, de vincular essas turbulências ao ativismo da grande imprensa brasileira, sobretudo da TV Globo, que participou do golpe de 2016, manipulou corações e mentes para destruir Lula e os governos do PT. O juiz de Curitiba se encarregou do resto, como todos nós sabemos, para finalmente ganhar o cargo de ministro no governo Bolsonaro.
O longa, com quase duas horas de duração, foi lançado dia 19 de junho em 190 países, tamanho é o poder da Netflix. É sim um documentário para ser visto e revisto. Quem sabe possamos entender a ascensão da extrema-direita brasileira ao poder. Pensar em possíveis saídas para recuperar a alegria de viver no Brasil democrático, com respeito aos direitos individuais, às minorias, e de ter orgulho de ser brasileiro.
Caetano Veloso postou no twitter sua emoção ao assistir Democracia em Vertigem. E quem não se emociona ao andar pelas ruas e ver tanta gente abandonada, sem emprego, sem projeto de governo, sem projeto de Nação? Estamos vivendo uma vertigem.