Romário Schettino –
I
A cidade e seu habitante
fazem, juntos, aniversário.
Uma canta a vitória de ser a mais bela
um canta a glória de viver dentro dela!
II
A cidade que me acolhe
dorme dentro de mim
feito uma cria que gerei e não pari.
A cidade que escolhi
me aceita e me rejeita igualmente.
A cidade em que dormi
pela primeira vez era azul,
como um mar sem marinheiro,
como um lago sem ondas.
E tinha o gosto do sapoti.
III
Eu ouvia dizer, em Caratinga, nos anos 60,
que no Planalto Central havia uma cidade
coberta por uma grande cúpula de vidro,
as calçadas eram esteiras rolantes e
ninguém precisava andar.
Era só um sonho imaginado pela infância.
Brasília, agora, ainda assim, é uma mulher de sorte
apesar dos vampiros que rondam
as suas casas e urnas.
Tem entre seus amantes
poderosos dentes de alho e olhos de lince.