Angélica Torres -
Nesta sexta-feira, 5 de abril, uma filha pródiga de Brasília volta à casa para lançar um livro-álbum. Após 15 anos sem publicar seus poemas, Teresa (Teca) Vignoli apresenta a nova safra de versos, conjugados página a página com fotos de Ronaldo Miranda Barbosa. Daí o nome Entre Mundos – fotopoemas, projeto antigo, sonhado e gestado por ambos nas Oficinas de Criatividade com Palavra e Imagem, desenvolvidas com alunos de graduação em psicologia e de especialização em Gestalt-Terapia, em Campinas (SP), Rio e São Paulo. O lançamento será no restaurante Carpe Diem (104 Sul), após as 19h.
Entre Mundos é uma coletânea de 29 curtos e delicados poemas de contemplação da Natureza. Leveza e suavidade são marcas registradas de Teresa Vignoli, como se pode sentir em “Ancestral”: O tempo emerge/ do Céu Profundo. / Vem respirar/ a luz do dia. Ou neste: A vida / em suspenso/ dança. Seus trapos, / farrapos de vento. E em mais este, “Estrela d’água”: Nas margens de Tudo/ pergunto: ̶ para onde me levarás / a que mundos?. Os breves poemas dialogam com as fotos de Ronaldo Miranda (na foto com Teca Vignoli), de igual maciez, enlevo e textura-tessitura.
Em formato retangular, com capa dura e fotos em policromia sobre papel couchê, Entre Mundos recebeu tratamento gráfico de livro de arte, primoroso, levezinho, harmonioso com a proposta da poeta e do fotógrafo, que há 25 anos cultiva o que flagra como hobby e se autointitula “um passageiro do olhar”. No prefácio, o antropólogo carioca e também poeta, Carlos Rodrigues Brandão, traduz as ilustrações como haicai-imagens e os poemas, como murmúrios e suspiros.
Para este professor da Unicamp, os pequenos poemas de Teresa parecem oscilar entre o também haicai e a tanka, poesia japonesa escrita em três e em cinco linhas, respectivamente. E, embevecido, parece quase sugerir um ato de vandalismo literário, ao dizer que o maior perigo do livro é poder ter suas páginas arrancadas para virarem pequenos e preciosos quadros na parede de alguma casa – “o que não seria, de modo algum, má ideia”, pondera com humor.
A POETA - Teresa Vignoli nasceu e viveu no Rio, até se graduar. Lá publicou poemas na coletânea Pa Lavra e Alambique (1973) e na revista Quaternio (1975), organizada por Nise da Silveira, de quem foi aluna dileta. Tanto assim que, ao se decidir por morar em Brasília, Teca, como os amigos a chamam, foi acolhida, a pedido da doutora Nise, por sua antiga amiga, a também psicóloga Mariana Alvim, que foi colaboradora e amiga de Darcy Ribeiro na UnB. Hoje ela tem dado palestras sobre vida e obra da renomada Mestra, a convite de universidades e instituições de psicologia do país.
Teca viveu por quase uma década em Brasília, entre 1978 e 86 (na foto da época, abaixo, Paulo Tovar, Renato Matos, Teca, Noélia Ribeiro, Nikolas Behr, Paulinho Mattos e Tita Lima). Após ter trabalhado no Hospital Sarah Kubitschek, participado com sua poesia do Movimento Cabeças e das coletâneas 20 POrrETAS (Brasília, 1980) e 27 POrrETAS (Brasília, 1981) e se despedido da cidade que ama lançando o livro-solo Asa Verso (1986), ela se casou e mudou-se com a família para Campinas (SP). Lá, publicou e lançou o livro Chama Verbo (2000), em parceria com Silma Coimbra, e criou com colegas uma clínica de psicoterapia para atendimento a adolescentes e adultos, trabalho que refinou ainda mais a sensibilidade humana com que a natureza a brindou.
Teresa e dra. Lúcia Braga iniciaram carreira na área da saúde, quase juntas, na Rede Sarah Kubitschek e é dela, hoje presidente da Instituição, o depoimento: “Sou grande admiradora da genial escritora, poeta e sobretudo pessoa, Teresa Vignoli. Nossa querida Teca tem uma dimensão humana que transborda em impressionante sensibilidade, ao transmitir, com palavras escolhidas com carinho e delicadeza, esse olhar tão especial sobre o mundo. Com Entre Mundos ela, mais uma vez, partilha conosco esse olhar”.
E “Lucinha”, como Teca a chama, não para por aí. “Para mim, é imenso o privilégio de tê-la conhecido e de termos trabalhado próximas, durante anos, no hospital Sarah e mais: de poder ainda conviver e aprender com essa amiga de coração tão grande e acolhedor. Querida, seja muito bem vinda de volta a Brasília!”, acena à antiga companheira.
Nicolas Behr, outro dos primeiros amigos que Teca fez em Brasília e que até hoje mantém com ela o vínculo do antigo afeto –, ao comentar o livro, fez um quase poema: “Ah, essa ânsia em compartilhar. Essa vontade de troca. Não guardar para si. Esse grande mistério: a poesia. De onde vem? Ninguém sabe. Nem a poesia. Entre Mundos é um testemunho, uma prova de que, sim, é possível um mundo melhor. Com mais poesia e harmonia”.
Entre Mundos – fotopoemas – De Teresa Vignoli e Ronaldo Miranda Barbosa. Lançamento na sexta-feira, 5/4, no restaurante Carpe Diem (104 Sul), após as 19h.