Maria Lúcia Verdi –
Melancolia - tristeza do sujeito frente ao mundo, desânimo, incapacidade de agir.
Não a melancolia do luto, da perda concreta, mas aquela do desencanto frente ao que parece impossível ao ego de compreender e aceitar.
A melancolia nos recorda o que falta – é o traço que fica de um sentimento que conhecemos um dia e desapareceu, deixando em seu lugar um buraco, uma sombra.
Lembranças boas da infância, de um amor terminado, de um engajamento importante.
Ilustra este texto a antológica pensativa figura alada de Albrecht Dürer (Melancholia 1, 1514).
Ela olha com desencanto - acompanhada de instrumentos da ciência e da geometria, além de símbolos da pesquisa alquímica e da arte - um mundo frente ao qual se sente impotente - a impotência da razão renascentista ainda afetada pela imaginação medieval.
Na obra São Jerônimo Dürer apresentará o antídoto a esta Melancolia: a serenidade do Santo absorto no estudo.
Espinoza também contrapõe o conhecimento, a alegria que dele pode advir, como a “salvação” frente à melancolia.
Pensar é fundamental, buscar a compreensão, por mais que ela tenha como condição um por vezes assustador velamento; talvez, sobretudo nos dias de hoje, em que o fantástico da informatização pode nos fazer sentir, em ilusórios momentos, como alquimistas embriagados de certezas.
Pensar é duvidar.
É triste, é melancólico, observar o que está ocorrendo aqui e no mundo no âmbito da política. Na esfera de um discurso único - o do Capital que corrói, o dos interesses econômicos que justificam, sem justificar, qualquer ato individual ou dos Estados -, num mar de bílis negra, tentamos enxergar alguma verdade que possa restituir-nos a esperança, a vontade de agir, a boa ira que alimenta transformações.
Mas a realidade pesa, parece impossível encontrar esse caminho e nos deixamos engolfar pela melancolia.
A saída saudável é a de que nos falaram há muito Espinoza e Montaigne: a busca do autoconhecimento, a reflexão, o estudo, a persistência, o compromisso consigo e com ideias que se mostrem sólidas, úteis, que tragam em si, agrego, algo do sabor animador das extintas utopias.