"A vida é de quem se atreve a viver".


Maria Lúcia Verdi: "Abraçar Keilah Diniz no dia 15/10, no Clube do Choro de Brasília, será insistir na fé de um Brasil atemporal que resistirá a esses tempos bárbaros".
Os dons de Keilah Diniz

Maria Lúcia Verdi –

Keilah Diniz nascida em Nova Aurora, sul de Goiás, em Brasília desde 1970, conheceu o Acre em 1977 e não mais parou de frequentar aquele espaço de força e mistério, fonte de inspiração. Em 1969, no Festival Universitário de Música Popular Brasileira de Goiânia, apresentou-se pela primeira vez. Sua chegada em Brasília, cantada em “O futuro chegou”, de seu novo CD “Dons”, explicita que “saí de casa com uma asa cortada\ pra não voar além do que resistia\ mas fui morar numa certa cidade\ que por ter asas da terra subia”.

Keilah, servidora pública efetiva do Ministério da Cultura, desde sua criação, em 1985, também trabalhou na Fundação Cultural Palmares, sempre engajada com as questões socioculturais e ambientais brasileiras. “Dons” reapresenta, após muitos anos afastada dos palcos, seu compromisso com a natureza e os povos da floresta.

Em “Fios”, homenageia o Jalapão por meio das mulheres que tecem o capim dourado, as “guerreiras do sol”. “É muito bonito” descreve o céu, as nuvens, os pássaros que nos viciam neste Planalto Central e sintetiza: “é belo de se ouvir\ o cantar das sabiás\ juritis e bem-te-vis revoando\ alvoraço das araras\ periquitos e cigarras\ cachoeiras despencando das serras\ é isso que se vê por aqui\ no planalto central do país.”

Capitolino - música de Keilah, feita em 1981, para uma peça de teatro de Maria Helena Kührner, “As aventuras de um diabo malandro” - é “cabra espertalhão”, personagem emblemático do capitalista que deseja enriquecer destruindo a floresta. Capitolino, escutada quarenta anos depois, ecoa o que ainda vivemos: “capitolino captou o medo\ capitolino captou o mal\ capitolino captou a fome\ e foi assim que fez seu capital”. Como diz a autora, infelizmente, “a história se repete”. 

“Juruá” é um canto do homem da floresta que pede ajuda: “só uma coisa me entristece\ quando escuto um passarinho\ cantando pede socorro\ à rainha da floresta\ salve a casa do meu pai\ salve tudo que ainda resta”.

Em “É verde” a amante da floresta e da tradição ancestral do ayahuasca louva os ritmos e cantares que unem seus adeptos: “e assim louvamos a vida\ dando viva à natureza\ viva todos que vieram\ e os que estão por chegar\ viva o povo brasileiro\ o povo daqui e de todo lugar.”

A última música, “Dons”, clama pela utopia de justiça e paz: “viva o sonho de justiça\ entre os homens, paz na terra\ viva a sabedoria do universo\ contra o mal\ salve os mestres do oriente\ orixás e os pajés\ a cultura que enlaça\ netos, filhos e avós\ voz, voz.”

No disco, as músicas de Keilah Diniz estão registradas com a maestria de músicos brasilienses, numa miríade de instrumentos: flauta, cordas, cello, cavaquinho, percussão, bandolim, pandeiro, violões, baixo elétrico, piano, acordeom, guitarras, bateria, violão de sete cordas, trompete, viola caipira, clarineta e sax.

Na noite da próxima terça-feira, dia 15/10, no Clube do Choro de Brasília (Eixo Monumental), Keilah estará acompanhada pelos músicos Eugênio Matos, piano; James Fernandes, violão e baixo elétrico; Nilton de Castro, acordeom; Marcos Ramalho, percussão; Mariana Burlamarqui, flauta; Flávio Fonseca, violão e voz; Stela Brandão, voz solo; pela Banda Cheers e por um coro.

Abraçar Keilah dia 15 será insistir na fé de um Brasil atemporal que resistirá a esses tempos bárbaros. Há cinquenta anos a artista milita pelo Brasil que sonhamos - justo, equânime, biosustentável, onde o povo tenha direito à educação, à saúde, à liberdade e nossas riquezas continuem nossas.

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FICHA TÉCNICA

Arranjos, Produção e Direção musical: Flávio Fonseca

Concepção: Keilah Diniz

Técnico de gravação: Pedro Tavares

Mixagem: Valério Xavier

Gravado no Estúdio 1 2 3 4, outubro/novembro/2018

Flávio Fonseca: Violões

Hamilton Pinheiro: Baixo elétrico

Eugênio Matos: Acordeom e Piano, em Dons

Daniel Baker: Piano

Paulo André: Guitarras

Célio Maciel: Bateria

Marcos Ramalho: Percussão

Valério Xavier: Pandeiro

Fernando César: Violão de 7 cordas

Moisés Alves: Trompete

Marcos Mesquita: Viola caipira

Ademir Júnior: Clarineta e Sax

Diana Mota: Flautas

Ivan Quintana, Fabianne Gotelipe, Antônio Fábio, Guilherme Ficarelli: Quarteto de cordas

Guilherme Ficarelli: Cello

Victor Angeleas: Bandolim

Pedro Vasconcellos: Cavaquinho

Stela Brandão, soprano, participação especial em Iemanjá

Coro: Ana Villalba, Eurilinda Figueiredo, Flávio Fonseca, Gabriel Kuran,

Marco Burlamaqui, Nayara Lopes, Silene Farias, Tatiana Diniz.

Desenhos: Rômulo Andrade

Fotos: Terza Hezim, Lu Maia, Arquivo pessoal

Agradecimento especial ao maestro James Fernandes.

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