Maria Lúcia Verdi –
Um capítulo do “as palavras e as coisas”, de Foucault, se intitula Trabalho, Vida, Linguagem.
Olho em torno e vejo os desempregados, os excluídos ao relento e os empregados do outro lado. Separação que não se costura.
A vida se expressa de infinitos modos, louváveis (quase sempre na natureza) e revoltantes (quase sempre na civilização), e nós tentamos compreender a linguagem que sai das coisas, das situações, decifrar secretas mensagens e articulá-las com as já conhecidas, resistir ao discurso do poder, a qualquer discurso de supostas verdades.
Estamos na Capital do Brasil, um Brasil tão diverso do dos anos 60, uma capital pensada para ser outra coisa. No recorte que é o Plano Piloto, a vida ondula entre as árvores e os canteiros de flores, apenas perturbada pelos que expõem, a céu aberto, uma outra verdade.
A mentira e o horror oficial, a vulgaridade e o descaso tentam convencer, com retórica lamentável, por exemplo, que a reforma da Previdência é uma reforma, não uma destruição.
Nada realmente importa para eles, os Todos Semelhantes, pois para eles nada mudará.
Por que haveria de verdadeiramente importar a vida desses trabalhadores, ou desses excluídos, se nem de fato entendem a linguagem que expressam, nascida de necessidades que desconhecem.
Passam, atravessam seu tempo histórico, cumprem mandatos, nada que transcenda.
O que nos diz a vida nas ruas é outro discurso. Descaso. Revolta. Inquietude. Resistência.
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Este artigo foi publicado originalmente neste mesmo site no dia 18/3/2017. Reproduzimos aqui porque nada mudou de lá para cá. Pelo contrário, piorou, e muito.