"A vida é de quem se atreve a viver".


Schumann: “Seja proficiente na vida, tanto quanto nas artes e nas ciências”.
Os bons conselhos de Schumann – para a casa e para a vida

Zuleica Porto -

“Se todos os artistas fossem primeiros violinos, não seria possível manter uma orquestra. Portanto, respeite a posição de cada músico”.

Este é um entre os sessenta e seis conselhos aos músicos aprendizes que o compositor romântico Robert Schumann publicou em 1848, em forma de epílogo ao seu Álbum para a juventude, uma entre suas diversas obras destinadas aos jovens pianistas.

Tenho em mãos a primeira publicação desses Conselhos aos Jovens Músicos – regras musicais para a casa e para a vida em Português do Brasil, com tradução a cargo do trio de instrumentistas e professores Luciana Gifoni (flauta doce), Heriberto Porto (flauta transversal) e Nelma Dahas (piano), a partir do cotejamento das versões em alemão (Ludwig Richter, Hamburgo, 1849) e francês (Franz Liszt, 1860) em preciosa edição da Lumah, editora localizada em Fortaleza, Ceará.

A revisão foi feita pelo professor Francisco Aragão, e as graciosas ilustrações ficaram a cargo do produtor de vídeo e quadrinista Gabriel Lage. Desse “concerto a dez mãos”, executado com cuidado e talento, resultou uma preciosa edição.

O Prefácio, escrito pelo professor e maestro Márcio Landi, traz valiosas informações sobre a vida de Schumann, principalmente para o público leigo no qual me incluo.

Por ele fico sabendo que entre os jovens músicos estavam os filhos do compositor com a pianista Clara Schumann, quatro à época da primeira publicação, sete no total. Que era um pai dedicado, como revela seu diário, no qual anotava as atividades e descobertas dos filhos.

E que sofria de um temperamento “intempestivo e perturbador”, que o levou, como à escritora Virgínia Woolf (1882-1941), a procurar a morte atirando-se num rio, no seu caso, o Reno.
É bem verdade que Virgínia não “se atirou”, andou rio Ouse adentro com pedras no bolso do casaco, mas os sofrimentos dele e dela, os momentos dolorosos de insanidade, os levaram a destinos semelhantes.

Sou apenas uma ouvinte e amante da música e nada entendo de sua teoria. Se me atrevo a falar sobre os conselhos contidos no precioso livrinho, é que suas reflexões são valiosas não só para aprendizes, professores e profissionais desta arte. Mostram-se providenciais para quem almeja o bom viver, em qualquer época e lugar.
 
A leitura da recomendação que transcrevi na abertura deste texto permite uma fácil analogia da orquestra com a sociedade do tempo moderno, na qual muita gente quer ocupar a posição do “primeiro violino”, e tem quem despreze e maltrate quem está em lugares de aparente menor destaque.

Para que haja afinação e harmonia é preciso respeito mútuo, seja qual for a posição que ocupa cada componente da orquestra, seja ela de músicos ou de simples viventes.

Outros conselhos dispensam analogias, o autor vai direto ao ponto, como o que diz: “seja proficiente na vida, tanto quanto nas artes e nas ciências”.

Proficiência no ofício de viver depende, como no exercício de qualquer profissão, de um infinito aprendizado, diz Robert Schumann aos jovens músicos.

Conhecer a obra dos grandes mestres, não se deixar seduzir pelos aplausos, amar o instrumento, ler os grandes poetas, passear ao ar livre nos momentos de descanso são atitudes que levam a evoluir no aprendizado, não só da música.

Talvez por ter sido o compositor um apaixonado também pela literatura, sua escritura permite que os conselhos sejam lidos isoladamente, abrindo-se o livro ao acaso, ou em linha reta, ou mesmo numa ordem escolhida aleatoriamente; o leitor percebe que um encadeia-se e remete a outro, anterior ou posterior, formando diversos textos ou um só.

Quase uma miniatura romântica do Jogo da amarelinha de Cortázar.

Nesta edição da Lumah, depois da recomendação final, o leitor é agraciado com mais uma ilustração – o músico que percorre a publicação está sentado numa poltrona, lendo um livro à luz de um abajur, com outros livros e um violino ao lado.

Aliando o desenho de Lage ao texto de Schumann, aquele que alerta que “o aprendizado não tem fim”, torna-se mais possível ainda considerar o livro uma obra aberta.
 
Além do mais, é um regalo para o espírito.

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Serviço:

Título: Conselhos aos jovens músicos: regras musicais para a casa e para a vida
Autor: Robert Schumann
Tradução: Nelma Dahas, Luciana Gifoni & Heriberto Porto.
Ilustrações: Gabriel Lage.
Editora: Lumah (contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.).
Nº de páginas: 84.
Valor do livro: R$ 24,90.
Como adquirir: www.lumahcultura.com.br

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