Sandra Crespo -
Parar de fumar, só depois de Cuba. Porque parece que todo o mundo vai a Cuba para fumar. Acho que todos os gringos que vi em Havana tinham um charuto no canto da boca. Eu, que nunca gostei de charuto, me senti meio que na obrigação de fumar um, e de sair de Cuba levando uma caixa de “puros”, um verdadeiro tesouro.
Nos imensos lobbies dos hotéis bacanas, todos muito agradáveis e bem decorados, a todo momento chegam os cantores de boleros, salsas e rumbas (e até bossa nova). A música se espalha, joga ritmo à fumaça do tabaco e aos humores do rum, e não poupa ninguém, nem mesmo quem deseja ficar são e sóbrio em Havana.
O saguão do hotel é fresquinho de ar condicionado, e imenso. Mas, mesmo assim, às vezes falta papel higiênico no banheiro.
Saio para fora, para a Praça Non, Gracias. Ali se concentram quatro hotéis cinco estrelas, na entrada da linda Habana Vieja, o imenso quadrilátero que está sendo restaurado primorosamente pelo historiador Eusebio Leal.
Aberta, a porta do hotel traz o bafo de Havana, o calor úmido. Mas isso é mole para quem conhece o Rio de Janeiro. O problema é quando a gente pisa na calçada. “Hablas español?”, “Non, gracias”, “Do you speak english?”, “Non, gracias!” “Parlez-vous français?”. “Non, gracias”. “Falam português? Brasil! El futbol, La samba?” “Non, gracias!!!”.
Não tem cigano em Roma, não tem “guia de turismo” no Senhor do Bomfim, não tem malandro em Pirapora que se iguale aos “jineteros” cubanos na arte de assediar e incomodar e enlouquecer e deixar de saco cheio qualquer ser humano.
Você tá fotografando um edifício lindo e chega o bacana para dizer, “Brasileira, amiga, você não pode perder o festival de charuto!” “Hoje tem festival de salsa, vamos lá, vamos agora!”. “Vamos fazer um tour por Havana na minha bicitáxi, você vai conhecer toda a realidade de Cuba!”.
Todo dia tem dez festivais de salsa e de charuto em Havana. Não dá para aproveitar todos eles em quatro dias.
Mas com o “non, gracias”, a gente acaba conseguindo sair da praça e ver as maravilhas da restauração do Eusébio. E fica torcendo para o trabalho incrível dele chegar nos prédios de Centro Havana, também eles lindos, mas deteriorados. Lá é onde as pessoas vivem.
As pessoas que, com seu trabalho e suor, sustentam a Revolução. As pessoas que se orgulham de ter suas crianças tão lindinhas, tão limpas e arrumadinhas, saindo da escola com o lenço vermelho em volta do pescoço.
Eu queria que o Brasil ajudasse Eusébio a dar um trato também nos edifícios residenciais. Mas sei que isso é difícil, porque os brasileiros não estão acostumados a ser generosos com outros povos.
Eu preferia que isso fosse só uma questão de ciúme. Porque, se estivesse toda arrumadinha, Havana ia ser um páreo duro para o Rio de Janeiro. De tão linda.