Marcos Bagno -
foram milhares de vozes
em perfeita entoação
era um coro que ecoava
- ele não!
falaram ao mar bravio
junto da rebentação
das ondas que repetiram
- ele não!
arderam sob o sol rijo
do seco céu do sertão
queimadas de azul disseram
- ele não!
pelo infinito planalto
espalharam seu refrão
e o cerrado agradeceu
- ele não!
percorreram as lavouras
semearam a razão
colheram uma certeza
- ele não!
desmantelaram as cercas
não respeitaram mourão
desafiaram divisas
- ele não!
eram vozes de mulheres
malha unida, um milhão
teia tecida sem falha
- ele não!
invadiram as cidades
convocando a multidão
que, brava, reverberou
- ele não!
bastou aquele pronome
seguido da negação
era um nome inominável
- ele não!
o mundo escutou as vozes
e fez a justa eleição
venceram, sim, as mulheres
- ele não!