"A vida é de quem se atreve a viver".


Ilustração/montagem
Um presidente mentiroso e maquiável

Alexandre Ribondi -

Hoje, sexta-feira, 2 de setembro de 2016, é o quarto dia de manifestações contra o impedimento de ex-presidente Dilma Rousseff na cidade de São Paulo. Na quarta-feira, 31 de agosto, a estudante paulista Deborah Gonçalves perdeu a visão do olho esquerdo após agressão policial. Em visita à China para participar do G20, grupo dos 20 países mais ricos do mundo, o recém-empossado presidente, Michel Temer, avisou que os tempos de turbulência acabaram.

A declaração do ex-vice-presidente serve para confirmar que a sua chegada ao poder e o futuro do seu mandato são e serão a mesma coisa: um pacote pesado de inverdades, manipulações e desprezo pela insatisfação popular. E mão pesada para fingir que não há mais turbulência no Brasil. Tanto que Michel Temer já avisou que não aceita ser chamado de golpista e que também não vai levar desaforo pra casa. A frase parece mais coisa de moleque arruaceiro do que de chefe de Estado, mas serve muito bem para anunciar os tempos que virão.

A presença de Temer na China. e a agenda marcada por encontros com chefes de outros países, já bastaram para que os assessores do Palácio do Planalto vissem a movimentação como aceitação definitiva do novo governo que, por sinal, foi analisado pelo jornal francês Le Monde como "comandado por um Maquiavel". A assessoria também tem afirmado, na primeira viagem internacional de Michel Temer, que o novo governo veio para consertar o País. Mas consertar exatamente o quê? Muitos dos detratores de Dilma Rousseff celebram o fim dos 13 anos de petisco e anunciam que a divisão criada pelo Partido dos Trabalhadores acabou e que o Brasil volta a ser um só.

Qualquer brasileiro mais ou menos instruído ou com conhecimento médio da história brasileira sabe que isso uma declaração dessa só pode ser fruto de mentira ou de medo da perda de privilégios mantidos por cinco séculos. O Brasil de Temer é dividido entre ricos e pobres, entre riquíssimos e paupérrimos, entre brancos e negros, entre homens e mulheres, entre herdeiros da colonização e índios e entre homossexuais e heterossexuais. Temer e seus iguais representam, desde o começo dos tempos brasileiros, os homens brancos e ricos, que veem os indígenas como empecilhos aos seus latifúndios e que, se procuram homossexuais na calada da noite, arrotam homofobia à luz do dia.

O governo destituído na semana passada percorreu caminho inverso. Com erros e acertos, Dilma tratou de redesenhar o mapa brasileiro. Criou programas que ofenderam a direita e a elite brasileiras, como o Bolsa Família, que não só garante escolaridade e saída da fome como dá poder à mulher pobre. Isso porque, junto com outro programa, Minha Casa, Minha Vida, o titular preferencial dos benefícios é a mulher, comprovado por 93% de participantes do sexo feminino. Além disso, não se pode esconder o fato de que temos programas como Mais Médicos, cotas para negros no terceiro grau, o ProUni, o Luz Para Todos, o Brasil Sorridente etc.

Então, os 13 anos do PT no comando dividiram qual país? O país deles, seguramente, que é uma nação de grande território e pouquíssimos habitantes, todos privilegiados. Quando Temer avisou, no seu primeiro discurso, que vai garantir a volta dos empregos para os 11 milhões de desempregados, ele foi afoito em seu desejo de mentir. É impossível que um governo como o dele, comprometido até o fundo da alma com o lucro capitalista no estilo terceiro-mundista consiga produzir riqueza que se espalhe.

A riqueza é deles, como sempre tem sido. De forma que devemos estar preparados para um governo com a manha masculina de mentir. O povo é a amante barata e pobre a quem tudo se promete e nada se cumpre. Os interesses internacionais são a esposa severa e autoritária, que exige a manutenção da fortuna e das aparências. Aliás, aparência é algo tão importante em governos montados em mentira que poderia ser sugerido ao Le Monde que não definisse Michel Temer como Maquiavel. Melhor seria dizer que esse homem embevecido com o poder que chega aos 75 anos é, por sua capacidade de mudar de cara, um presidente maquiável.

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