"A vida é de quem se atreve a viver".


O presidente da Chechênia,  o barbudo e fascista Kadyrov, que tem apoio de Putin, acredita que está limpando seu país dos homossexuais
Bem-vindo ao inferno chamado Chechênia

Alexandre Ribondi –

Acabo de assistir Bem-Vindo à Chechênia (Welcome to Chechnya), documentário de David France sobre a perseguição à comunidade LGBTQI na Federação Russa e, em especial, na Chechênia. Impossível não se atormentar com a violência exibida ao longo de 107 minutos.

Trata-se de uma política de estado: os homossexuais são caçados, torturados e eventualmente assassinados. Os que são poupados têm sorte amarga: são entregues à família que passa a ter a missão honrosa de matá-los. E matam. Há uma filmagem curta, pavorosa e dolorosa onde isso acontece.

Bem-Vindo à Chechênia é um filme feito às lágrimas (assista ao trailer aqui). Chega a ser insuportável. Maxim Lapunov, homem de 30 anos, que conseguiu escapar com a ajuda de ativistas LGBTQI russos, teve que fugir (para destino não revelado), na companhia do namorado, da mãe, da irmã e dos sobrinhos - um deles ainda no colo, porque estavam todos ameaçados de tortura e morte.

A mãe de Maxim, aliás, merece uma atenção especial. Com problema nas pernas, usa bengala para se locomover e ao descer do avião com dificuldade e ao pôr os pés no novo país, ouve alguém que lhe pergunta se ela precisa de ajuda. Ela responde, com um sorriso meigo, desses de mãe: “Não, obrigada. Eu sou uma heroína”.

O filme também fala de Balim Zakaev, o belo e triste cantor checheno que foi preso e torturado em 2016. Até hoje não se sabe dele e seu crime foi amar homens. Putin, o presidente da Rússia, sabe de tudo e, pelo seu silêncio e indiferença, deixa claro que está de acordo.

Muitos dos perseguidos conseguiram fugir com a ajuda de ativistas gays organizados na cidade de Moscou. De acordo com o filme, o Canadá recebeu 44 pessoas. Já a administração de Donald Trump recusou todos os pedidos de asilo.

O presidente da Chechênia, o barbudo Kadyrov, acredita que está limpando o seu país e que os homossexuais terão que prestar conta diante de Alá. Diz isso com ar de deboche e com incontrolável alegria. Por suas bravatas e lealdade canina a Putin, lembra, e muito, o atual presidente brasileiro - igualmente patético e fidelíssimo a Trump. E isso faz com que a gente lembre que não se pode fingir que não existe perseguição à comunidade LGBTQI no Brasil. A crueldade praticada aqui pode sair das periferias e do universo trans e chegar à classe média que erroneamente se sente segura. Foi assim durante a ditadura militar e o atual ocupante do Palácio do Planalto admira os torturadores de então.

Maxim Lapunov relata que o povo da Chechênia tem a tradição de ser simpático e generoso, mas que, com o início da perseguição aos homossexuais, descobriu que esse mesmo povo pode ser violento e perverso. Isso se presta também a explicar como o brasileiro, conhecido como “povo cordial”, elegeu um homem misógino, homofóbico, racista, perseguidor de indígenas e que vê o estupro com olhos condescendentes. É preciso ter cuidado: cada vizinho pode ser um monstro patriota.
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Ficha técnica:
Nome do documentário
: Bem-vindo à Chechênia (Welcome to Chechnya)
Sinopse: Ativistas arriscam a vida para enfrentar o líder chechênio, Ramzán Kadírov, e sua campanha, apoiada pelo governo russo, para prender, torturar e matar pessoas LGBTs.
Em pleno século 21, a comunidade tenta fugir dos crimes de violência e homicídio.
Data de lançamento: 30 de junho de 2020 (EUA)
Diretor: David France
Elenco: Maxim Lapunov, Olga Baranova, David Isteev
Prêmios: Teddy Activist Award
Música composta por: Evgueni Galperine, Evgueni and Sacha Galperine, Sacha Galperine
Roteiro: David France, Tyler Walk
Duração: 1h47min

Atenção: O filme, que está sendo exibido pelo canal NOW/NET, contém cenas fortes de violência.

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