Geniberto Paiva Campos –
Mesmo para os brasileiros mais distraídos não seria assim tão difícil perceber a sequência de eventos que culminou com o desmonte do país em pouco mais de uma década.
Logo que o Partido dos Trabalhadores assumiu a Presidência da República, para espanto e revolta da elite verde-amarela, foi dada a partida para a conspiração permanente entre os poderes da República, incluindo a mídia, (o “quarto poder”). Chamou a atenção do distinto público a adesão entusiástica do Judiciário. No papel de novos salvadores da pátria, à semelhança dos tenentes da década de 1920, travestidos com as suas togas.
As operações midiáticas e judiciárias recebiam na pia batismal nomes adequados aos seus objetivos políticos: afastar o PT da presidência. O chamado Mensalão foi o primeiro deles. Todos com viés anticorrupção. Um pretexto cinquentenário.
À falta de provas ou evidências juridicamente consistentes, apelou-se para conceitos estranhos, alguns até esdrúxulos, para serem aplicados ao caso. A mídia se encarregava de torná-los palatáveis e aceitos, pela mera repetição, naturalizados.
E passamos a conviver com novos e intrigantes conceitos jurídicos aplicados prontamente no lugar de provas cabais: domínio do fato, por exemplo; e na ausência absoluta de provas, suas excelências apoiavam-se na literatura jurídica. Isso era dito e repetido sem nenhum tremor dos lábios ou sequer rubor facial de suas excelências meritíssimas, em suas togas imaculadas.
Assim, no alvorecer do século 21, começava o desmonte inexorável da nação brasileira.
Os anos de 2002, 2006, 2010 e 2014 marcam, na história política do país, uma sequência de vitórias eleitorais da coalizão política liderada pelo Partido dos Trabalhadores. Isso não poderia continuar sendo aceito pela elite verde-amarela. Era preciso fazer algo mais ousado e efetivo para afastar o PT da Presidência da República, antes que as suas reformas postas em prática e bem aceitas pela população se tornassem irreversíveis.
Utilizando todos os pretextos possíveis: aumento de 20 (vinte!) centavos nas passagens dos coletivos; realização da Copa do Mundo de futebol; o desvio de recursos da Petrobras, foi estabelecida uma nova estratégia: classe média nas ruas (sempre aos domingos) e a criação da operação Lava Jato, sediada na República de Curitiba. Sempre com o auxílio luxuoso da mídia e do Judiciário. Objetivo maior: tornar o antipetismo um dos maiores, senão o maior partido político brasileiro.
Comprovadas a força e o poder da coalizão anti-PT, seus integrantes começaram a agir de acordo com as estratégias definidas pelos seus comandos internos e externos: afastar a presidente Dilma; obter a condenação do ex-presidente Lula; eliminar o PT do jogo político e, finalmente, retomar o poder, de onde esteve afastada por mais de uma década. Tendo como escopo principal reduzir o Brasil a uma mera colônia, ou nação-estábulo, exportadora de matéria prima. Como falou Saul Leblon, com a voltagem de rapina em curso contra as conquistas recentes e os direitos históricos do povo brasileiro, com a sofreguidão dos ladrões diante do cofre.
Consumado o impeachment da presidente Dilma, por arranjos fraudulentos assumidos como causa, teve início o desmonte do país, do modo mais cínico e desavergonhado. E com pressa obscena.
O passo seguinte foi a condenação e a prisão do ex-presidente Lula, candidato imbatível a novo mandato presidencial. Prisão e condenação sem qualquer fundamentação jurídica, minimamente justificáveis. Deixando claro para todos: Lula é um preso político. Incomunicável. Proibido de assumir a candidatura presidencial, mesmo com a recomendação em contrário de organismos das Nações Unidas.
Dando sequência à denominada Guerra Híbrida (*) o Brasil continuou entregando as suas riquezas naturais a preços vis, perdendo a sua liderança tecnológica conquistada ao longo de décadas, alienando gradativamente a sua soberania, e com suas universidades públicas sob ameaça de liquidação. Completamente submetido ao deus mercado.
As eleições gerais de 2018 estão sendo atípicas. Pela primeira vez o país foi submetido aos Cyber Attacks, para os quais os partidos políticos não estavam preparados e a maioria deles ficando atônitos com os resultados.
Enfim, o Brasil entrou na era cibernética pela porta dos fundos e sem capacidade de resposta de curto ou médio prazo. Mais um retrocesso significativo nos padrões democráticos e civilizatórios.
O Partido dos Trabalhadores, vítima dos ataques e o principal núcleo de resistência à agressão, (ainda) não foi extinto e sai vitorioso politicamente em algumas áreas e, portanto, sobrevivente do ódio ideológico insano e da fúria incontida, sectária, dos atacantes da guerra híbrida.
E uma longa e difícil luta política nos próximos anos. Talvez, décadas.
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(*) GUERRA HÍBRIDA - significado (Wikipedia) = uma estratégia militar que mescla táticas de guerra política, guerra convencional, guerra irregular e cyberguerra com outros métodos de influência como fake news, diplomacia, law fare e intervenção militar externa. (Não precisa desenhar).