Geniberto Paiva Campos (*) -
Agora é para valer. Após avanços e recuos, começa finalmente o governo Michel Temer. Entronizado pela soberana decisão da Câmara dos Deputados. Para a qual foi eleita em 2014 uma sólida maioria, com a elevada missão de substituir a decisão popular pelos desígnios soberanos da ideologia neoliberal.
Alterando de maneira completa, talvez definitiva, o perfil social e econômico da nação brasileira.
A outrora poderosa Rede Globo não conseguiu afastar o presidente Temer da sua sagrada missão: conduzir o país para o século 19. Bem que tentou. Mas foi inútil.
Concluída a tarefa de manter o vice eleito como substituto definitivo da ex- presidente, teve sequência, com a pressa possível, a votação das Leis Promotoras do Retrocesso (LPR).
Criando, portanto, o “Estado Pós-Democrático”, com o qual o Povo brasileiro passa a conviver. Tomando conhecimento “da dor e da delícia” da ditadura suave. Ou “Ditabranda” como queria aquele jornal paulista.
Como dizia o Conselheiro Acácio “o problema das consequências é que só vêm depois...”
No dia 11/11/2017, entrou em vigor a Nova Lei Trabalhista, recém aprovada pelo Congresso. Cujos efeitos deletérios logo serão percebidos. Com a destruição dos direitos trabalhistas duramente conquistados pelos operários brasileiros ao longo de décadas de lutas.
Talvez a doce – e tardia – vingança do capitalismo rentista contra Getúlio Vargas, João Goulart e Luis Inácio Lula da Silva. E, claro, contra o Papa Leão XIII e a sua profética encíclica “Rerum Novarum”, de 1891.
O Brasil inicia assim a sua “via crucis”, adentrando o tenebroso caminho das trevas. Redundante e difícil. No qual todos os brasileiros, com a justa exceção da conhecida minoria da meia dúzia de hiper milionários tupiniquins, irão provar do pão que o diabo amassou.
Bastando tomar conhecimento (jamais pela mídia neoliberal) do que está acontecendo na Espanha, após a implementação das novas regras do trabalho.
Continuamos aguardando a extinção do Estado de Bem-Estar Social, vigente em alguns países desde o período imediatamente após 2ª Guerra Mundial.
A quem os brasileiros devem a extinção da democracia, dos direitos sociais, do Estado de Direito, da busca da igualdade, da inclusão sócioeconômica e da impossibilidade de sermos, enfim, uma sociedade civilizada?
Com toda justiça e reconhecimento a um Congresso Nacional, especialmente eleito para implantar os Dez princípios da concentração de riqueza e poder (“O Fim do Sonho Americano” - filme documentário baseado em entrevistas de Noam Chomsky, disponível no Youtube):
1. REDUZIR A DEMOCRACIA
2. MOLDAR A IDEOLOGIA
3. REDESENHAR A ECONOMIA
4. DESLOCAR O FARDO DE SUSTENTAR A SOCIEDADE PARA OS POBRES E CLASSE MÉDIA
5. ATACAR A SOLIDARIEDADE
6. CONTROLAR OS REGULADORES
7. CONTROLAR AS ELEIÇÕES
8. MANTER A RALÉ NA LINHA
9. FABRICAR CONSENSOS E CRIAR CONSUMIDORES
10. MARGINALIZAR A POPULAÇÃO
A todos os congressistas que com o seu voto pró impeachment, em 2016, colocaram o Poder Executivo nas mãos de um grupo de homens comprometidos com o atraso e a desigualdade. Movidos pelos piores interesses. Absolutamente distantes de princípios e valores como humanismo, solidariedade, compaixão, ética, respeito à natureza, espiritualidade (Ulisses Riedel, in “Ecologia Espiritual / Genealogia da Alma” – Ed. União Planetária – Brasília, DF, 2017).
Valores que, aqui listados com boa fé, iriam provocar nessas pessoas indisfarçados risos de escárnio e desdém, pela incontida ingenuidade dos que ainda se mantêm ligados e ainda guardam tais princípios.
A todos esses, que em época não tão distante seriam com inteira justiça, rotulados de traidores da pátria, o alerta dos verdadeiros patriotas;
- “A teoria neoliberal não logrou êxito em nenhum lugar do mundo. Há de chegar o momento no qual, os que agora assaltam o Poder, deverão prestar contas das suas ações nefastas. E aqueles que com o seu voto, propiciaram tamanho retrocesso, poderão corrigir tais equívocos, agindo pela recuperação da democracia e dos direitos fundamentais da sociedade brasileira, através de medidas revogatórias e outras cabíveis, para devolver aos brasileiros a Justiça, a democracia e o retorno possível à civilização”.
Finalmente, a Esperança.
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(*) Geniberto Paiva Campos, do Coletivo Lampião.
Médico e membro da Comissão de Justiça e Paz da CNBB