"A vida é de quem se atreve a viver".


Geniberto: "O objetivo da “Escola sem Partido” é a escola da submissão e do conformismo. É uma excrescência".
Escola sem partido: educação como instrumento de dominação da elite

Geniberto Paiva Campos -

Causa estranheza a nova investida dos agentes neoliberais direcionada ao sistema educacional.

Quando já nos habituávamos com a pauta econômica ortodoxa da elite: estado mínimo; extinção de direitos dos trabalhadores; garantia total de lucro máximo do capital; a volta do país à condição de colônia, enfim, o sonhado retrocesso ao século XIX. Eis que surge a novidade: a “Escola sem Partido”.

O que significaria esse cuidado explícito, por parte da elite, com a educação da infância e juventude brasileiras, traduzida num Projeto de Lei que, explicitamente, coloca barreiras e impõe suspeitas aos partidos políticos (e claro, à política) no âmbito das escolas?

Percebe-se claramente que o objetivo é outro. A “Escola sem Partido” é a escola da submissão. E do conformismo.

Quais seriam os indicadores educacionais que acenderam as luzes de alerta para o perigo representado pelos partidos nas escolas? Isso realmente existe, ou é a mais um “factoide” criado pelos marqueteiros neoliberais?

O que o ensino - fundamental e médio - teria a ver com as ameaças de redução do lucro sagrado do Capital pelos investimentos em projetos sociais, por exemplo?

A alfabetização das crianças; as noções de aritmética, álgebra; história, geografia; as expressões oral e escrita teriam seu desenvolvimento natural comprometido pela presença de partidos políticos na escola?

Quais partidos? Todos, ou apenas determinadas e perigosas organizações?

Por que então a súbita e grave preocupação do capitalismo rentista e de seus áulicos com a política nas escolas, desenterrando e apoiando um tema estranho e sem fundamentação didática? E de inegável inspiração ideológica, no pior sentido do termo.

São interrogações pertinentes. Afinal, as famílias brasileiras não podem assumir os riscos e perigos de uma “educação partidarizada”.

A sociedade brasileira não tinha conhecimento do potencial subversivo da equação do 2º grau.

Algo tão sutil e sorrateiro que estava passando despercebido pelas autoridades educacionais do país.

Mas o que vem a ser exatamente tal perigo, observado apenas pelos sábios representantes da elite? Perigo a ser corrigido ou atenuado pelo projeto “Escola sem Partido”.

Talvez o risco da formação de uma consciência crítica, não conformista, por parte dos estudantes.

A não aceitação da ideologia do conformismo, da desobediência aos princípios da “servidão voluntária”. Dificultando o sonho de uma sociedade de bons servidores e prestadores de serviço. E consumidores acríticos. Objetivo supremo dos neoliberais.

Talvez por isso, nas passeatas de domingo, manifestantes ferozes, com suas camisas amarelas, empunhavam, com olho rútilo, seus cartazes: “Basta de Paulo Freire!”

A prioridade atribuída pelo governo Temer e seus apoiadores no Congresso à “Escola sem Partido” revela, claramente, o quanto este governo é retrógrado. E não tem uma ideia segura do que é Educação e dos novos desafios ensino/aprendizagem no século XXI.

O seu modelo educacional estacionou no século XIX. E para lá pretende empurrar de volta o país. Aí incluído o sistema educacional.

Nas primeiras décadas do século passado o governo brasileiro afirmava: “a questão social é caso de polícia”. Seria essa a maneira como o governo Temer pretende tratar a questão da Educação, como “caso de polícia”?

Haveria uma infiltração partidária nas escolas, a qual, corrigida, traria eficiência ao nosso sistema educacional? Trata-se de um raciocínio primário e tolo. Insustentável.  Malévolo.

Ou se pretende criar um esquema de censura e vigilância ideológica entre os docentes e alunos, fazendo surgir um “Macartismo Pedagógico”?

Na era da comunicação interativa, na qual os estudantes de todos os níveis deixam de ser receptores passivos e obedientes dos conceitos emitidos por seus mestres, a “Escola sem Partido” parece uma excrescência.

Anacronismo tosco e sem nexo, propositadamente inserido no aparato legal do país, para desviar o debate sobre ensinar/aprender no século XXI.

Podemos imaginar o que seria esta Lei da Escola sem Partido, em vigor. E as suas funestas consequências para o futuro do país. Um Brasil servil e alienado. Sem noção de patriotismo ou soberania.

Os desafios atuais do ensino são de outra natureza. É outra a pauta.

O sistema educacional não pode ser colocado nos corredores da antiga Delegacia de Ordem Política e Social, o DOPS, de triste lembrança.

A educação deve ser “livre, leve e solta”. E precisa, com urgência, superar vários obstáculos ao seu pleno desenvolvimento.

Para os que compreendem a atual missão da escola na formação da cidadania e de uma sociedade civilizada, mudanças são urgentes. E as prioridades são bem diferentes das medidas policialescas propostas pelas autoridades educacionais do atual governo.

Há várias décadas o sistema de ensino permanece imutável em seus princípios e na sua prática. Tem dificuldades em se adaptar aos novos tempos. É este o desafio atual.

Urge debater amplamente as formas de ensino/aprendizado, relacionando-as com o mundo real, tendo a inovação como perspectiva permanente.

O Brasil é um país moderno, uma das maiores economias do mundo.

Obteve avanços significativos no desenvolvimento científico e tecnológico.

Não pode, portanto, ser tratado como uma nação de segunda classe. Abdicando da sua soberania.

A reforma educacional constitui uma das prioridades máximas da nossa pauta atual.

A “Escola sem Partido” é apenas uma forma de atraso. Compromissada com o passado. Proposta por quem pouco entende de ensino/aprendizado e do novo papel do professor. E que coloca um antigo olhar inquisitorial sobre o sistema escolar brasileiro.

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