Geniberto Paiva Campos -
Consumado o impeachment chegou ao fim mais um ciclo, ou um soluço, democrático no Brasil, que durou exatos 31 anos.
Considerando as experiências históricas recentes, é possível que a elite brasileira esteja um pouco mais tolerante com a democracia.
Desde que não venham com essa história de igualdade, salários justos para os trabalhadores, programas sociais, políticas públicas inclusivas.
É suficiente a garantia de lucro do capitalismo rentista.
Insuportável esse mau exemplo de pobres ocupando os aeroportos, e começando a gostar de viagens aéreas. Matriculados em Universidades.
Como falou a jornalista chique da Folha de SP: “- qual a graça de viajar a Paris, se na classe econômica viaja o porteiro do seu edifício?”.
Com o governo Michel Temer e seus colaboradores e cúmplices, o país retorna à “normalidade” neoliberal. Se afunda no obscurantismo. Adere ao cinismo.
Reassume a sua condição de colônia, ou protetorado, produtor de matérias primas. E entrega as suas reservas estratégicas aos interesses estrangeiros. A começar pela Petrobrás e o Pré–Sal.
Claro, a preços vis.
Antigamente, quem incidia nesse tipo de deslealdade era considerado “traidor da pátria”. Ou “entreguista”. No mundo globalizado é coisa natural. Louvável, até. Afinal, petróleo e seus derivados poluem o meio ambiente.
E o Brasil inicia sua viagem atravessando velozmente – esse pessoal tem pressa! – a “ponte para o futuro”.
Futuro onde o pobre e o trabalhador explorado conheçam o seu lugar.
Cabe repetir a pergunta da canção da “Legião Urbana”: “Que país é esse?”.
Ou, colocando a questão diretamente: - que futuro é esse para onde empurram, com tanta pressa, o Brasil?
É o país da desigualdade. Da jornada de 12 horas diárias de trabalho. Sem carteira assinada pelos patrões (são terceirizados). Sem direito a férias ou aposentadoria. Um regime análogo à escravidão. Onde inexiste previdência.
Congelando os gastos públicos por longos, inacreditáveis 20 (vinte!) anos.
Industrialização, desenvolvimento tecnológico, inovação? Esqueçam. Uma Colônia prescinde destes requintes. Energia Nuclear? Nunca! Lembrai-vos de Chernobyl. Somos pacifistas. (E uma nação de segunda classe).
Defesa da Amazônia e da integridade territorial do país? Balelas.
Ensino de qualidade, em todos os níveis? Produção científica de ponta? Ciência sem Fronteiras? Coisas desnecessárias. Importante mesmo é a escola sem partido (o que isso possa significar).
Cuida-se da implantação do Estado policial. Onde a Lei, finalmente, poderá ser aplicada à elite, mas apenas quando vier ao caso.
Importante não confundir propina (aplicada ao PT), com vantagem indevida (a propina dos partidos da elite).
E o instituto da delação premiada será aplicado apenas para punir alguns segmentos sociais considerados inimigos. Como na era dos regimes totalitários do século passado.
As penitenciárias continuarão abarrotadas de negros e pobres. E sem sentença definitiva. Sabem – os da elite – que eles, os presos, são culpados.
Qualquer vacilo, aplica-se a Lei Carandiru. A pena de morte à brasileira.
Presidiários, mesmo aqueles sem julgamento, não são exatamente santos. Como afirmou, em pronunciamento recente, um governador diante da covarde chacina nas prisões do seu Estado.
Podemos imaginar que tempos piores virão. Já vivemos o tempo da Novilingua orwelliana.
A pergunta que fazem os brasileiros conscientes: - como agir para deter tal calamidade?
Voltemos ao pensamento de Etienne de La Boéti, citado na 4ª capa do seu livro: “Como a autoridade constrói seu poder principalmente com a obediência consentida dos oprimidos, uma estratégia de resistência sem violência é possível, organizando coletivamente a recusa de obedecer ou colaborar”.
Enfim, a desobediência civil. A luta é política. A resistência política pacífica demonstrou, na História, sua importância na recuperação da democracia.
E, como sabemos, não existem caminhos. Os caminhos se fazem ao caminhar.
Este o desafio colocado para a democracia e a todos os cidadãos brasileiros.
O país não pode aceitar passivamente o desmonte das suas instituições.
A vergonhosa entrega das suas riquezas. A extinção da sua cadeia produtiva. O comprometimento do seu futuro como nação livre e soberana.
Mais uma vez, libertemos o grito preso na garganta: Abaixo a Ditadura!