Luiz Philippe Torelly –
Não há evento mais esperado em Brasília, do que a chuva que sucede a seca. Moro aqui há 60 anos e sempre foi assim. O céu a partir do final de agosto vai se esbranquecendo, depois se acinzentando e finalmente acontece o milagre do renascimento.
Quase sempre chove em setembro, mas não muito. A chuva começa mesmo em outubro. Lá pelo dia de finados, já temos aquelas chuvas de dia inteiro. Aquelas que molham para valer, que recarregam os rios e mananciais, que permitem a semeadura e que trazem o verdor, uma temperatura agradável e flores. Muitas flores.
Este ano tivemos chuva em setembro. Foi um alívio! Cumpriu-se o ciclo habitual e a primavera se instala. Porém, após dois dias de chuva, o calor começou a aumentar, o verde que estava querendo vir, desapareceu, e a seca voltou. Voltou intensa com a mais alta temperatura já ocorrida aqui no planalto: 37,7º.
Este ano exibiu para os brasileiros com toda força, a verdade das mudanças climáticas: incêndios por toda a parte, muito calor, poluição e muito carbono na atmosfera. A natureza adverte, mas os homens dão de ombros e continuam em sua luta contra a natureza. Rumo à morte e à destruição.
Há uns 15 dias que cigarras e sabiás cantam desesperadamente chamando a chuva. Enquanto escrevo ouço seus apitos e cantorias na dança pela vida. E a chuva teima em não vir. Renitente, resiste ao nosso clamor ancestral. Dá sinais, mas não dá as caras.
A espera da chuva é a espera de dias melhores, mais agradáveis e amenos. É o que também esperamos do Brasil, seco de ideias e de homens. Ao invés da chuva, do verde, da esperança, o que ouvimos é um ranger odioso, impropérios e intolerância, subserviência e medo, um genocídio que se tornou silencioso, uma indiferença com a vida e com o futuro.
Que triste país se transformou o Brasil.