Geniberto Paiva Campos (*) –
O processo de urbanização, o convívio humano mais próximo, a interação com animais e suas mutações genéticas, a mundialização/globalização, um sistema de transporte cada vez mais eficaz, transformou o mundo numa “aldeia global”. O Homem deixou de ser caçador/coletor e se fixou à terra. E foi, gradativamente, incorporando às suas atividades diárias os avanços tecnológicos, sequer suspeitados em épocas recentes.
Desde o início do século XX, as populações voltaram a ser periodicamente assoladas por pandemias virais que têm cobrado um alto custo em vidas humanas. A mais recente foi a do coronavírus. Com início provável em 2019. E com origem na China.
Em alguns países, o impacto desse vírus teve uma evolução peculiar. E bastante complicada, com número elevado de óbitos. Sendo o Brasil um desses países. Em outros locais, independentemente de formas de governo e outras varáveis, a nova pandemia foi enfrentada com competência, visão estratégica e respeito à Ciência e ao conhecimento médico-sanitário. Em tais situações, o coronavírus foi bem controlado e a sua população pagou um preço aceitável no enfrentamento da pandemia, mesmo não dispondo, ainda, de vacinas e remédios específicos para aplicação na fase viral aguda.
Na evolução da pandemia atual, o Brasil ocupa um dos primeiros lugares, superado, apenas, pelos Estados Unidos e pela Índia, em número de pacientes infectados e de óbitos. Neste último item, estamos próximos de 150 mil mortes, aceitas com incrível naturalidade e indiferença pelos nossos atuais dirigentes. E o pior, desconhecendo, ingenuamente, a taxa de letalidade do vírus.
O desafio imposto pela pandemia está a exigir, desde o seu início, um combate inteligente e eficaz. Caso contrário, poderá se transformar num grave transtorno, com repercussões muito além da área da saúde pública. Como, aliás, já vem acontecendo em alguns setores.
A chegada do coronavírus ao Brasil foi precedida pela instalação de um governo de perfil neoliberal, de um comportamento cuja ortodoxia ultrapassa qualquer expectativa, mesmo a mais otimista dos criadores e seguidores da seita. Governo fruto de uma eleição presidencial onde a manipulação e a fraude, ambas escancaradas, exerceram papel decisivo no resultado final. Fato geralmente ignorado (convenientemente?) por alguns intelectuais e acadêmicos, os quais preferem atribuir a atual situação do país “aos erros e omissões da Esquerda...”
O acesso de um grupo de fanáticos ao poder no Brasil, não é resultado do acaso. Trata-se de uma operação cuidadosamente planejada e executada pela liderança neoliberal, com o apoio de partidos políticos, e governos estrangeiros, que diante de seguidas derrotas eleitorais, decidiram – sem se importar com as consequências - mais uma vez, abdicar dos seus valores e compromissos democráticos. Os resultados desastrosos de mais uma aventura golpista, obedecendo aos padrões latino americanos, estão presentes no atual governo, o qual coloca o Brasil no rumo do abismo.
Estamos sob o domínio do capitalismo financeiro, segundo Edgar Morin (2011), desconectado da economia real, voltado para o interesse exclusivo dos especuladores (...) mergulhamos, enfim, prossegue Morin, no antagonismo “de um mundo desarticulado, onde se agravam ondas ideológico-político-religiosas que intensificam os ódios cegos e suscitam histerias que favorecem as guerras e as expedições punitivas.”
Foram vários os erros – elementares – cometidos pelo governo em sua forma atabalhoada de enfrentar a pandemia. Caracterizada por falsos e equivocados entendimentos, incapacidade gerencial e comportamentos erráticos, na vã tentativa de minimizar uma crise. Séria e desafiadora em todas as suas nuances. E de trágicas consequências. Foram ultrapassados os limites da irresponsabilidade.
Mas, enfim, o que se espera dos cidadãos brasileiros, conscientes da grave situação sanitária que o país atravessa? A pandemia precisa ser enfrentada, apesar do grupo de fanáticos que nos governa. Ouçamos as orientações da nossa colega, a médica Lígia Bahia, doutora em Saúde Pública e professora da UFRJ. Ela defende alguns pontos fundamentais. É um esforço sério para “despolitizar” a pandemia e enfrentá-la com inteligência e sabedoria. E claro, humildade.
Eis as recomendações da dra. Ligia: 1. Preservar o isolamento social; 2. Não pode abrir as atividades; 3. Não está na hora de voltar às aulas; 4. Tem de usar máscara e lavar as mãos, o tempo todo; 5. Evitar transportes lotados; 6. Não andar de Uber; 7. Não ir para a rua; 8. Não vá ao shopping; 9. Se tiver que fazer compras, faça de forma muito rápida; 10. Não abusar dede pedidos de entrega em casa; 11. Se tiver que cortar o cabelo, tente fazê-lo num local aberto; 12. Não pode ir à praia; 13. Não pode beber cerveja no bar; 14. Continuar pagando as pessoas que prestam serviço e que devem continuar em casa; 15. A gente pode começar a ver parentes muito queridos: se estivermos quarentemados e os parentes também; 16. Não pode fazer reunião com 15 pessoas; 17. Não pode fazer festa de aniversário; 18. Pode ver a mãe muito idosa, porque a gente já está há muito tempo assim; 19. Pode fazer caminhadas ao ar livre.
Saiba que seguindo estas recomendações você estará se protegendo e protegendo os outros. E que venha a vacina, enfim. Lembrando que vacina não tem ideologia...
_________________
(*) Geniberto Paiva Campos, do Instituto Sapiens. Brasília, outubro, 2020.