Danilo Firmino (*) –
A morte tem cheiro estranho, gosto amargo, aspecto assustador. Mexe com nossa cabeça, nosso corpo e nossos corações.
Infelizmente, ela vem se aproximando na surdina, driblando as falsas e hipócritas estatísticas. Aliás, ela é maior e mais aterrorizante que quaisquer estatística oficial. De um dia para outro, ela dobra, triplica, se multiplica.
Foi assim na China, Itália, Espanha, França e está pior no Equador, onde corpos se empilham nas ruas, e cinzas são jogadas em valas comuns, após a cremação. Por falar em cremação, no Rio a burocracia acaba de ser facilitada pra cremação, forma mais fácil de eliminar corpos contaminados por um vírus que ninguém conhece. O mundo está perplexo.
A morte está fazendo os coveiros de Caxias trabalharem três, quatro, cinco vezes mais. Ela está em Honório Gurgel, Guarabu, Madureira, Realengo, Jd. América, Vigário Geral, Vila Kosmo e na Rocinha.
Essa é a triste realidade: o vírus Covid19 avançando sorrateiramente pelos nossos subúrbios, bairros e favelas do Rio de Janeiro.
Mas algo muito mais grave acontece nesses dias na nossa cidade maravilhosa.
Apesar da morte rondando e os contaminados ocupando todos os nossos hospitais, há uma visão totalmente “fake” de que está tudo dentro da normalidade.
De um momento para outro, as ruas voltaram a ficar lotadas de pessoas, especialmente de idosos.
O distanciamento social ficou para trás e a quarentena, tão fundamental no combate à circulação do Coronavírus praticamente deixou de existir.
De mais a mais, ainda estamos no superferiado da Semana Santa e o invisível vírus começa a dobrar suas vítimas, especialmente nos bairros dos subúrbios carioca, na Baixada Fluminense e nos lugares mais carentes da cidade.
Os números oficiais não correspondem à realidade, estão subnotificados. Na realidade, segundo levantamento do Coletivo Fala Subúrbio, os infectados e os óbitos estão crescendo assustadoramente especialmente deste lado da cidade.
Mas parece que as pessoas não acreditam nem na ciência, nem nas estatísticas. Há gente saindo de casa por inúmeros motivos: é necessário fazer compras, pois a Semana Santa está aí; é fundamental descolar algum trocado, pois a “merreca” de 600 reais ainda não caiu na conta. Temos também que ir aos bancos e aos postos da Receita para regularizar as condições do CPF e fazer as inscrições do Auxílio Social do governo federal. A vida é dura.
Tudo isso parece ter sido planejado em um laboratório do mal e do crime.
A crise, além de ser sanitária e de saúde, começa a ser também econômica e é acima de tudo política. O governo federal atrasou muito com o vale social para os milhões de brasileiros que trabalham por conta própria e dos 40% de desempregados que os defensores da economia parecem ter esquecido que já existiam. Era de se imaginar mesmo que um governo neoliberal com um forte viés fascista teria muita dificuldade em abrir os cofres, num momento de guerra contra um inimigo invisível, para socorrer as vítimas pobres e os mais desvalidos da sociedade. É o que estamos presenciando: pobres cadastrados pelo Leão da Receita Federal.
Apesar dos governadores e do próprio ministro da Saúde recomendarem que não é o momento de baixar à guarda, pois o vírus é oportunista, invisível e mortal; Bolsovírus continua pregando o relaxamento do isolamento social.
Ele não só prega a praga, como pratica o genocídio dando exemplo. É um assassino!
Moral da história: a maioria das pessoas não está querendo saber nem do uso das máscaras que protegem bastante em ambientes de convívios coletivos como lojas e supermercados; estações de trens, barcas, ônibus e de metrôs; bares e restaurantes; bancos, agências da Receita, etc.
O prefeito/pastor do Rio é outro a praticar a política genocida com os cariocas mais necessitados, pois decreta Estado de Calamidade Pública, e continua dando calote nos salários dos servidores públicos, especialmente naqueles que trabalham no setor de saúde – postos, clínicas da família, UPAS e hospitais.
Esses funcionários, por sinal, que estão na linha de frente do combate ao Covid19, também são os mais ameaçados. Alguns desses ambientes hospitalares não possuem o básico: máscaras, luvas, sabão líquido, álcool gel e álcool 70, capote impermeável, vales transportes e alimentação. Fora os postos e hospitais que estão sem água.
Ainda bem que a solidariedade corre solta e consciente entre a sociedade civil organizada. Nós mesmos, do Fala Subúrbio, distribuímos mais de 150 cestas básicas e vamos prosseguir firmes na nossa ação de solidariedade de classe. É esta força que nos fará vencer as batalhas que se avizinham desta guerra, que ao fim estaremos juntos pra reconstruir esta sociedade, ressignificando valores, onde a vida seja maior que o lucro, que somos maior do que o que temos, e que a desigualdade social seja uma história passada, tal como, a doença derrotada pela vacina da ciência, e ganância derrotada pelo antídoto da humanidade.
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(*) Danilo Firmino é compositor e Coordenador do Coletivo Fala Subúrbio.