Danilo Firmino (*) –
Há uma pergunta no ar que precisamos responder imediatamente:
Como fazer isolamento social (“fiquem em casa”) para enfrentar e derrotar a circulação do Coronavírus (Covid-19), quando fazemos parte de uma gente que se fez na rua, se criou na rua, ama viver a rua e socializar vida, costumes, atitudes, cultura e arte?
Este é um desafio gigantesco que temos pela frente e, ao mesmo tempo, totalmente paradoxal. Pois, moramos e vivemos nos subúrbios. Somos, antes de tudo, agentes da sociabilidade. Somos essa incrível gente suburbana que pulsa vida e se espalha nos bairros das zonas Norte e Oeste, Leopoldina, favelas, comunidades, becos e bocadas.
Cultuamos a convivência nos mínimos detalhes, quer no trato com os vizinhos, nas turmas do bairro e da comunidade, na frequência dos bares, das esquinas, quadras esportivas, os meios de transportes incluindo aí trens, ônibus, o metrô, os táxis, as vans de lotação e as motos comunitárias.
São nesses espaços que praticamos o desenvolvimento de nossas essências, quer em conversas onde passamos o mundo a limpo, exercendo nossa fé ou nos juntando em comunidades para cantar, tocar, dançar, saudar e celebrar a vida na sua dimensão mais sensível.
Mas agora o planeta e todos os seus humanos clamam por um “stop”.
Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor, dando um tempo para perceber o que está acontecendo.
O subúrbio (e seus moradores e moradoras) necessita seguir o protocolo universal de cortar a circulação do vírus invisível, extremamente contagioso e exterminador que nos assombra.
Para tanto, precisamos reinventar nossa sociabilidade suburbana, criando uma corrente de solidariedade que se auto-proteja e proteja todos os nossos idosos, crianças e toda a rapaziada.
Não podemos dar bobeira insistindo na ocupação das ruas e dos espaços comunitários como sempre fizemos e sabemos. Precisamos voltar para nossas casas, nossos lares e a partir dali, criar uma enorme irmandade para enfrentar essa guerra. Trabalharemos sempre ao lado dos enfermeiros, médicos e agentes da saúde de nossas comunidades. São nossos principais aliados.
A orientação universal de lavar obstinadamente as mãos e o rosto para não sermos agentes da circulação indiscriminada do coronavírus, é uma missão cotidiana: lavar pela manhã, a tarde e a noite. Usar álcool em gel como uma arma de proteção para nosso corpo e nossos pertences.
Mas a rede de “Solidariedade Suburbana” só será viável com o fim (pelo menos por enquanto) da nossa circulação diária pelos espaços que criamos e dominamos.
É hora de frearmos as ruas, é hora de ficarmos em casa. O momento é duro, difícil e assustador. Mas, sem pânico e com muita coragem e seriedade, exigiremos que o Estado brasileiro (Governo e Prefeitura) cumpra com suas obrigações – instalação imediata de uma fábrica de álcool em gel em nossa vizinhança, é um exemplo prático e imediato.
Mas são necessárias também ações de sustentação econômica para as famílias e os comerciantes mais carentes que moram e trabalham nos subúrbios, como a suspensão do pagamento das contas de água, luz, telefone e outros impostos.
Nunca foi tão necessário desenvolver essa consciência política e comunitária. A guerra não é somente nos nossos bairros. A guerra é de todo o Planeta.
Mas sem nossa presença, incentivando a ausência das ruas, não conseguiremos vencer a pandemia. Vamos adiante Subúrbio. Um passo atrás agora, dois à frente amanhã.
Juntos venceremos!
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(*) Danilo Firmino, 29 anos, é compositor/autor do samba da Mangueira de 2019, líder comunitário de Honório Gurgel e fundador e coordenador do Coletivo “Fala Subúrbio”.