Antônio Carlos Queiroz (ACQ) –
Acabo de ser contratado para escrever crônicas, gênero que dizem ser tipicamente brasileiro. A ideia é ser fiel à tradição, tão velha quanto o Machado de Assis, oferecendo aos leitores e leitoras comentários leves, espirituosos, engraçadinhos, donairosos. O objetivo é distraí-los-ilas das preocupações desses tempos bicudos. A alienação como linimento, a hidrocodona para os nós da garganta, a fibromialgia e a estenose da uretra, no sentido moral!
Acontece que eu não me lembro de nenhum tempo que não tivesse sido bicudo nesse Engenhão. Por isso, talvez eu não consiga cumprir o contrato nem preencher a coluna com sueltos que me garantam algum saldo no banco.
Depois de longo pensar por quase 10 minutos, bolei um pretexto – uma boia no lugar do tronco – onde eu possa me agarrar quando for avisado da demissão. Vou propor ao editor um título para o meu espaço, sem explicitar as segundas intenções, derivadas das classificações das doenças: Crônicas & Agudas.
Crônicas autênticas seriam, por exemplo, às que se referem ao mundo do trabalho. Agudas, as que têm a ver com as dívidas que rompem o fim do mês. O fascismo atávico do País seria mote para as crônicas, como as dores do nervo ciático, digamos. Rompantes como os do ex-secretário Roberto Alvim – pedras nos rins – seriam mais adequados para as agudas.
O diabo vai ser quando eu tiver de cobrir fatos que se parecem com as dores disruptivas do câncer, cada vez mais numerosos. Como achar a vida bela com uma torção da gônada? Esse é o meu desafio a partir de segunda, quando inauguro minha coluna semanal.