Geniberto Paiva Campos –
Faltam poucas semanas para o término do governo do presidente Temer, o qual pretendia construir uma “ponte para o futuro”, mas não deu início, sequer, às suas fundações. Não tinha sequer o projeto. E não disse a que veio, exatamente. Talvez fazer a rápida entrega do Brasil aos interesses estrangeiros. Fazer o país andar para trás E mais nada. Uma tarefa vergonhosa. E que está longe de ruborizar o presidente.
Em pouco mais de dois anos no exercício da presidência da República, Temer comprovou a sua completa nulidade. Difícil imaginar um mandatário mais incompetente e opaco. (Mas, como disse o tenor italiano ao receber as vaias da exigente plateia da ópera: - “aspeta il barítono!”)
Uma estranha, estranhíssima eleição direta, entregou o poder ao capitão Jair Messias Bolsonaro. Dono de uma retórica que “não combina com a realidade” e cujas decisões tampouco combinam com o seu segundo prenome. O futuro (ou já atual) presidente nada tem de messiânico. E demonstra que pretende conduzir, inexoravelmente, o Brasil à Idade Média. Quando a terra ainda não era redonda.
Está explicado porque o capitão não podia participar de debates eleitorais. Ordens médicas. De cirurgiões. E psiquiatras. E dos marqueteiros. A sua pauta, de tão retrógrada, iria causar espanto e repulsa eleitoral. E, na realidade, o Brasil adotou um novo sistema de fazer eleições. Onde campanhas, debates, apresentação e discussão de propostas, confronto de ideias, tornaram-se obsoletos. Coisas do passado.
Um novo sistema de escolha “política” (vá lá o termo) no qual deputados, senadores, governadores e o próprio presidente poderiam ser “fabricados”. Ilustres desconhecidos do seu eleitorado, mas com votações arrasadoras, surpreendentes. Mas inquestionáveis. Afinal, o voto apareceu lá, na urna eletrônica. Corretamente. Propiciando vitórias acachapantes. E, portanto, naturalizadas. Assim é a nova política. Que não causa a menor preocupação à justiça eleitoral, com pautas mais transcendentes. Ou isso não vem ao caso.
E passamos a contar com “governos de ocupação”. Estranhos dirigentes, caídos do céu, produto de um novo sistema de escolha eleitoral. Novas lideranças, com a nobre tarefa de empurrar o país para baixo e para trás. Um retrocesso medieval. Cidadãos que nunca tiveram participação na política eleitoral foram consagrados em pleitos majoritários: senado, governos estaduais. Um mistério.
E qual o currículo – profissional e político – do capitão, eleito para governar o país nos próximos quatro anos? Que tem como guru um filósofo de mente complicada, meio amalucado, errático em suas convicções, tal como o seu discípulo? Cercado de generais aposentados. Qual será o resultado dessa estranha mistura? O país vai pagar para ver.
E novamente, o Brasil assume a condição de “país satélite” americano. Nova recaída. Nos tornamos uma espécie de Porto Rico. Claro, mais informal na aparência. Mas uma nação ocupada. A ser “defendida” pelas forças do Tio Sam. Parece que aprendemos pouco com as lições do “movimento” de 1964.
E somos, novamente, uma nação “entre aspas”. Kennedy, Johnson, a 4ª Frota, o embaixador Gordon, (à época, nosso presidente de fato), Vernon Walters, marines americanos, mal disfarçados, ocupando o Nordeste, as Marchas da Família. Ah, 1964. Tudo convenientemente esquecido. Afinal, somos um povo de memória curta. E sempre em luta permanente contra o perigo vermelho. Um povo eternamente servil? Batendo continência para os patrões? Fazendo tudo que seu Mestre mandar?
Desde 2013 passamos a assimilar o conceito de Golpe Continuado. O processo de extinção definitiva dos “vermelhos”. Agora, suave no método, mas impiedoso nos seus retrógados objetivos. Onde nada acontece por acaso.
E retoma-se a questão: - como fazer oposição num país que caminha, com pressa e rapidez, em direção à Idade Média? Com dirigentes eleitos por um sistema eleitoral mágico? Eis a questão. E, afinal, o que teria acontecido na região Nordeste? Teriam esquecido de aplicar a magia eleitoral por lá? Houve uma “fraquejada”? Somente o tempo responderá essa desafiadora questão.
Após as eleições, abrem-se as cortinas e surge, enfim, o Brasil Novo. Consagrado pelo voto dos seus esperançosos, espertos eleitores. Mas que vez ou outra se distraem e decidem fazer escolhas demiúrgicas, entregando o poder aos salvadores da pátria: Jânio Quadros, Fernando Collor, Jair Messias Bolsonaro. A lista prosseguirá, “ad infinitum”. O país do futuro, à procura errática do seu futuro. Utilizando vassouras, balas de prata e “fake news”. Manipulações grosseiras, mas infalíveis.
A capacidade de resistência da democracia será mais uma vez desafiada. Trata-se de uma luta contra forças internas e externas, que têm a missão de fazer o Brasil retroceder à Idade Média. Eles surgem agora com outros nomes, outra retórica, outros gurus. Mas os objetivos são os mesmos: refazer o Brasil Colônia; recriar o regime de escravidão do qual nunca saímos completamente; alienar nossas riquezas e nosso patrimônio aos interesses estrangeiros; retornar, enfim, aos bons tempos da Guerra Fria. O Neoliberalismo é o novo nome do Nazi Fascismo e da tosca estupidez do século 21. E a chamada “Guerra Híbrida” a sua arma.
Faltou, no entanto, combinar com os verdadeiros patriotas remanescentes, que não perderam o “Fio da História”. Sabemos que esse tipo grosseiro de manipulação política tem vida curta. Com começo, meio e fim.
Infelizmente, seremos obrigados a pagar para ver. E vamos à luta. Com serenidade, humildade e confiança. E a certeza de que a democracia impõe uma luta permanente. Continuada. Sem tréguas.