Helena Iono -
Buenos Aires - Terça-feira, 20 de junho, Dia da Bandeira na Argentina, no estádio Arsenal de Sarandí, no município industrial de Avellaneda, repleto com multidões vindas dos vários rincões da Província de Buenos Aires.
Foi nesse ambiente que a ex-presidenta Cristina Kirchner lançou a nova frente chamada “Unidade Cidadã”.
O ato ensejou a cobertura ao vivo não só do canal popular C5N, mas de outros três canais de TV, incluindo o TN, do jornal Clarín, tal é a preocupação pela crescente liderança política e social de Cristina, não obstante a desvairada perseguição do poder judicial-midiático.
Enquanto o presidente neoliberal Maurício Macri realizava um ato lúgubre na cidade de Rosário, em frente ao monumento à bandeira, evocando Belgrano, herói da independência, rodeado por apenas 600 pessoas (funcionários do governo) e protegido por forte aparato policial, centenas de milhares de trabalhadores, aposentados, jovens, desempregados, famílias inteiras foram acolher e ouvir Cristina que, junto com Néstor Kirchner, emplacou seu projeto de inclusão social durante mais de doze anos.
Suspense – A expectativa popular por este reencontro foi enorme, seja pelo massacre econômico como pela depressão social que desabou sobre o povo argentino nesta era macrista. Seja também pela história e esperança depositada em Cristina Kirchner e, sobretudo, pela novidade política que traz a formação da “Unidade Cidadã”.
Essa unidade, impulsionada pela decisão de cerca de 50 prefeitos peronistas e kirchneristas de romper com o aparato carreirista do peronismo conservador de direita do Partido Justicialista (PJ), vem sendo apoiada por correntes político-partidárias como La Câmpora, o Nuevo Encuentro, sindicalistas da CTA (de Yasky) e da ATE (estatais) e cidadãos independentes, dirigentes peronistas da Província de Buenos Aires, e alguns governadores alfonsinistas e socialistas.
Ao discursar, Cristina deu a linha de urgência e retratou uma nova concepção para nortear a Unidade Cidadã.
Esteve no ato como cidadã comum, de calça comprida, sapato baixo e pulôver, num palco mergulhado no centro de uma maré de populares e militantes, sem cartazes nem bandeiras partidárias como de costume (somente bandeiras argentinas).
Lá estava uma Cristina interagindo com os manifestantes, com muita emoção e determinação, sem citar nenhum partido político, mas destacando a necessidade do protagonismo do povo.
No discurso de Cristina, em primeiro plano, o arrocho econômico, a agressão neoliberal, a volta do desemprego, a flexibilização do trabalho, as tarifas de energia impagáveis, o fechamento das fábricas, do pequeno comércio e, agora, o endividamento do país a ser pago em 100 anos (pelos netos, bisnetos e tataranetos).
Cristina apelou para a importância de organizar todas as energias do povo como forma de "deter esse estado de loucura, desencadeado a partir de dezembro de 2015 com o novo governo [Macri]".
“Esta tristeza na sociedade, me comove também. As pessoas tinham a vida organizada, podiam planificar no fim de mês. Romperam. Desorganizaram a vida. As pessoas tinham projetos”, disse Cristina.
“Eles querem nos dar uma dívida por cem anos”, disse ela. “Isso sim, será hipotecar o futuro. Isso sim será uma pesada herança. Vejamos o que são os empréstimos assinados recentemente pelo governo Macri”, concluiu a ex-presidenta.