Romário Schettino -
A ausência dos chamados caciques, ou dos capas pretas dos partidos políticos de esquerda, é uma característica dos protestos de rua que incluem Fora, Temer! Fora, Cunha! Reforma Política, já! Diretas, já! e outras palavras de ordem necessárias e bem ditas com a cadência da juventude estudantil e dos excluídos do campo e da cidade.
O povo está nas ruas. O que ocorreu em Brasília, da Praça do Museu da República até a rampa do Congresso Nacional, foi o Grito dos Excluídos, realizado desde 1995, no dia 7 de Setembro. Esse ato é promovido pela Pastoral Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Não subiu no carro de som nenhum político, nenhum líder partidário, nenhum deputado. O povo nas ruas promete: “Não tem arrego, você tira meus direitos e eu tiro o seu sossego”.
Estavam lá na Esplanada cerca de 10 mil pessoas. Trabalhadores rurais, estudantes, mulheres, negros e negras, homossexuais para protestar contra a usurpação da Presidência da República por Michel Temer e seus aliados, exigir eleições gerais e, claro reforma agrária.
Um cartaz dizia: “Eu acuso os três poderes de impedir a reforma agrária no Brasil”. Outro: “Meu partido é meu país”. “Fora, Cunha, Fora Temer”.
No carro de som, comandado e dirigido por mulheres, os discursos se revezavam reafirmando o caráter suprapartidário, libertário, democrático e, sobretudo, exigindo reforma política e a manutenção (ou a ampliação) dos direitos conquistados ao longo dos últimos anos.
O governo Temer, considerado ilegítimo, não poderá ignorar a resistência às reformas neoliberais já anunciadas.
Estão na fila para votação no Congresso Nacional, a entrega do Pré-Sal (já iniciada), terceirização da mão-de-obra, a flexibilização da CLT (negociado prevalecendo sobre o legislado), reforma da Previdência, com aposentadoria aos 75 anos, desregulamentação dos setores produtivos, privatização desenfreada do patrimônio dos brasileiros (Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica).
E mais, está na onda privatista o sistema educacional, a saúde e a totalidade da produção de energia hidrelétrica.
Esse avanço predador significará redução da proteção social implementada nos governos Lula e Dilma (bolsa família, Pronatec, Prouni etc etc).
Tudo em nome da redução dos gastos públicos e geração de superávit primário para pagar os juros da dívida e enriquecer os banqueiros, aumentar a concentração da riqueza. Os pobres, que se explodam.
Temer construiu, com a ajuda da imprensa comercial e seus aliados de direita, a maioria no Congresso Nacional que permitiu a retirada de Dilma Rousseff do governo sem crime de responsabilidade, mas não dormirá um dia sequer sem ouvir o barulho das ruas: Fora, Temer!
Queiram, ou não, seus apoiadores também terão que ouvir: Golpistas! Golpistas!