"A vida é de quem se atreve a viver".


Jones Manoel foi atacado com frases racistas pelo secretário de Cultura de Bolsonaro, Mário Frias, nesta quinta-feira (15/7), e rebateu pelas redes sociais (Foto: Reprodução/Redes sociais)
Moção de repúdio às declarações racistas do Secretário de Cultura Mário Frias

Representantes da sociedade civil no Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC) divulgaram Moção de Repúdio às declarações racistas do Secretário de Cultura do governo Bolsonaro.

O secretário Mário Frias ofendeu o professor Jones Manoel em um post publicado quinta-feira (15/7) em uma rede social dizendo que “ele precisa tomar um bom banho”. Em seguida o Twitter apagou a postagem do secretário.

Manoel, que usa cabelo afro e barba, respondeu em suas redes sociais: "Olha o ex-ator frustrado e atual fascista cometendo um crime de racismo diário".

Frias fez o comentário em resposta a um post do assessor da Presidência da República Tércio Arnaud Thomaz. Arnaud compartilhou uma matéria do site Brasil 247 com a frase: “Jones Manoel diz que já comprou fogos para eventual morte de Bolsonaro”.

Manoel rebateu também pela internet. "Governo liberal-fascista de Bolsonaro é lotado de racistas, nazistas e tudo que não presta”.

O historiador, que é militante do PCB, disse que ainda não tinha prestado queixa por causa dos ataques, mas que avalia entrar na Justiça.

A nota do CNPC, divulgada no dia 16 de julho, afirma ainda que é preciso dizer “não ao totalitarismo neo-obscurantista nas políticas culturais brasileiras”.

A seguir, a íntegra da nota do CNPC:

“Os representantes da sociedade civil no Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC), composto por organizações e entidades culturais dos segmentos técnico artístico, patrimônio cultural, culturas populares e expressões culturais afro-brasileiras e indígenas do Brasil vêm a público externar todo seu repúdio aos constantes atos de racismo explícito e flertes às práticas do nazismo, demonstrados contra a cultura brasileira e seus representantes, refletindo a covardia e a crueldade destes que se sentem à vontade publicamente e, de forma vil, para verbalizar declarações abertamente racistas.

Repudiamos as frases racistas desferidas contra o professor Jones Manoel pelo secretário de Cultura de Bolsonaro, Mário Frias, na quinta-feira (15/7).

Tais ofensivas se somam a diversas outras condutas que já extrapolam a coerência e o bom senso humanitário ausentes neste governo. Fica cada vez mais claro, o projeto racista e de ódio ao povo brasileiro, que em sua grande maioria é negro, inclusive quando o próprio presidente associa o cabelo Black Power a um criadouro de baratas, ofendendo negros, quilombolas e suas tradições.

Repudiamos veementemente o cancelamento por parte da Funarte da captação de recursos pelo Festival de Jazz do Capão via Lei Rouanet. Este posicionamento flagrantemente baseado em fundamentalismo e ideologização, se configura como um grave desvio de finalidade das políticas culturais. Infelizmente estamos convivendo diariamente com desastrosos pareceres em desconformidade com as demandas da cultura afro-brasileira. Lamentável esse governo descabido de informações que não reconhece a arte como fator de multiplicação e ação transversal em nossas múltiplas linguagens para a nação e bem fazer Cultural.

Repudiamos o processo de perseguição e tentativa de controle político partidário ideológico por parte de alguns gestores do governo federal a servidores públicos dentro da Secretaria “Especial” de Cultura, que estão sofrendo assédio moral e institucional.

Repudiamos o frequente mal-estar e o desconforto que vem sendo gerado aos servidores da Secretaria Especial de Cultura diante da postura, do secretário, que anda e despacha, visivelmente armado, no ambiente de trabalho. Esse clima de tensão somado aos escândalos, ofensas, os gritos comumente deferidos aos servidores, representa uma ameaça constante à integridade física e psicológica desses trabalhadores, além de ser inadmissível essa postura dentro do órgão de representatividade cultural.

Repudiamos o histórico de banalização das vítimas do nazismo e as falsas analogias atribuídas a um dos fatos históricos mais trágicos da humanidade, o Holocausto, promovidas como agenda contra as medidas de restrição à pandemia adotadas pelos governadores, resultado da falta de políticas públicas sanitárias, do negacionismo e dos interesses escusos que impediram a imunização do nosso povo brasileiro.

Comparar as medidas de combate à pandemia impostas por governadores e prefeitos ao Holocausto, como fez recentemente o ex-ator Mário Frias em falsa analogia entre a matança de milhões de judeus durante o período nazista e os decretos dos governadores que na tentativa de conter o avanço da pandemia de covid-19, que já deixou mais de 500 mil mortos no Brasil, serve apenas para banalizar a memória das vítimas do nazismo.

Vivemos tempos em que as instituições democráticas precisam demonstrar categoricamente sua intolerância a qualquer forma de censura, bem como asseverar que não haverá complacência com o pensamento totalitário de quem quer que seja, indivíduos, grupos, organizações ou governos. É necessário afirmar com veemência que a liberdade de expressão, os direitos humanos e o estado democrático de direito, são valores civilizatórios dos quais não abriremos mão.

Prezamos pelo livre debate de ideias e acreditamos que as disputas ideológicas partidárias, jamais devem se confundir com erros históricos. Como um representante da diversidade cultural brasileira, ao promover discursos racistas, desrespeita todos os brasileiros que têm compromisso com a democracia e a formação cultural do nosso povo.

Os assuntos da cultura brasileira devem ser debatidos pelos atores da cultura brasileira, dentro do espírito da diversidade cultural e da pluralidade das ideias. Todos os brasileiros e brasileiras devem lutar para que atos dessa natureza sejam extintos e que fiquem somente nos registros da história para que possamos lembrar o quanto o ser humano pode ser cruel com seu semelhante.

Portanto, na defesa destes valores e princípios os representantes da sociedade civil do Conselho Nacional de Política Cultural - CNPC se manifestam, expressando publicamente sua contrariedade e apoiando esta Moção de Repúdio.

Brasil, 16 de julho de 2021.”

Assinam:

Conselheiras e Conselheiros da Sociedade Civil
Conselho Nacional de Política Cultural - CNPC
Leonardo Ferreschi - Conselheiro Representante da Região Sul
Rita Andrade - Conselheira Representante da Região Centro Oeste
Mãe Tuca d'Osoguiã - Conselheira Representante das Expressões Afro-Brasileiras
Luciano Rocha dos Santos - Conselheiro Representante Região Nordeste
Giovanna Penido - Conselheira Representante Região Sudeste
Sebastião Alberto Vieira de Moura - Conselheiro Representante Região Norte
Renato da Silva Moura - Conselheiro Representante da Região Norte
Iriadney Alves da Silva – Conselheira representante da Região Centro Oeste
Soraya Amaral - Suplente Região Sul
Cleide Façanha – Suplente Região Norte

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